25 junho 2020

DOWN

Quando Letícia soube que estava grávida, não se deu conta de como seria sua vida a partir daquela constatação, pois afinal, ela ainda brincava de boneca e era sua mãe quem penteava seu cabelo quando ela ia para a escola. As transformações no corpo daquela menina de quinze anos que acabará de debutar foram preocupando sua mãe que achava que a filha não teria estrutura suficiente para interpretar a nova realidade de sua vida. Apesar de toda estrutura familiar que não deixava faltar nada para a adolescente, Letícia ainda era uma criança na concepção de seus pais e sua mãe tinha em si que teria que cuidar da criança que iria nascer, pois não poderia contar com a ajuda do pai, de dezesseis anos, nem da família dele. Os primeiros exames pré-natal foram feitos e estava tudo normal. Letícia, apesar de muito jovem, sempre foi muito estudiosa e interessada em tudo que se referia a família, a bons costumes. - Infelizmente houve um deslize e fiquei grávida, mas assumo minha responsabilidade e daqui pra frente, apesar de muito jovem e inexperiente, vou cuidar do meu bebê com carinho e amor e agradeço a Deus por poder contar com a ajuda da minha família. Esse tipo de atitude deixou seus pais mais tranquilos, pois em nenhum momento sentiram qualquer tipo de rejeição em relação a criatura de Deus que Letícia trazia em seu ventre. A gravidez transcorreu normal até o último exame, no oitavo mês, quando Letícia recebeu uma notícia dada pelo médico de que havia algum problema com relação à formação da criança em seu ventre. Todos ficaram receosos em contar a Letícia sobre o assunto, mas ela havia desconfiado e exigiu que lhe contassem: - Eu vou perder o meu bebê? O que vai acontecer? Para surpresa, Letícia não encarou o fato como um problema: A Síndrome de Down é um distúrbio genético causado quando uma divisão celular anormal resulta em material genético extra do cromossomo 21. Provoca uma aparência facial distinta, deficiência mental, atrasos no desenvolvimento e pode ser associada a doença cardíaca ou da tireoide. O tratamento é feito por programas de intervenção precoce com uma equipe de terapeutas e educadores especiais, que podem tratar a situação específica de cada criança. Quando Maria Luiza nasceu foi recebida com muito amor e carinho. Letícia foi uma mãe dedicada e doou todo seu tempo, toda sua vida para cuidar da filha que para ela sempre foi uma criança igual as outras, pois nunca faltou amor, carinho e ternura de ambas as partes.
ANTONIO AUGGUSTO JOÃO

MEU PAI CHOROU

Quando garoto olhava para meu pai e imaginava ser como ele quando crescer. Minha mãe dizia que tinha que comer bastante arroz com feijão. Bem magrinho, olhava no espelho e projetava a minha imagem, a minha vida que estava por vir. Meu pai foi um comerciante das feiras livres. Carregava caixas e sacos de legumes nas costas como se fosse pena e queria fazer como ele quando crescer. Eu tinha orgulho. Ele me dizia que a força vinha da inteligência e que a inteligência era adquirida nos estudos, na força de vontade, em querer saber e conhecer. Meu pai me aconselhava a estudar bastante, para ser alguém na vida. Eu vi meu pai chorando. Nem quando a caixa cheia de legumes caiu em seus pés, tampouco quando ele tinha uma forte dor de dente. O tempo passou e comecei a compreender a vida e suas emoções. Chorei muito, mas pelos amores possíveis e impossíveis, pela falta de um ente querido, pela saudade – Palavra mais escrita pelos poetasPensei que meu pai fosse chorar como minha mãe chorou quando quase fui para o exército, quando me formei na faculdade de administração de empresas, já que não tive a sorte de ser um jogador de futebol - O sonho dele. Quando me casei, arrumei minhas coisas e fui para bem longe e mesmo assim ele não chorou. - Minha mãe chorou! Quando minha filha nasceu ele não chorou. Suas lágrimas escorriam por dentro. Queria que ele pudesse ter visto meu filho nascer! Duvido! Ele iria chorar como eu. Mas como dizem: Ninguém é de ferro: - Meu pai chorouAo ver as lágrimas escorrendo em seu rosto, me senti numa guerra, prisioneiro do inimigo. Ele reteve as lágrimas até quanto pode, mas seu coração transbordou, não teve como segurar, pois um filho que ele criou foi embora e se sentiu como se estivesse perdido uma guerra.  Chorou desesperado. Um dia vou reencontra-lo. Ele vai me abraçar e vamos chorar. Só que será um choro de felicidade! - Meu pai chorou.
ANTONIO AUGGUSTO JOÃO

PARABÉNS A VOCÊ!

A festa de aniversário dos meus quatorze anos foi a última que quis comemorar, depois, nunca mais fiz uma festa no dia do meu aniversário. A comemoração caiu num sábado e o baile foi nos fundos da minha casa. Tinha mais menino do que menina, mas a festa foi minha, a vitrola foi minha e todos estavam na minha casa. Então, eu tinha que dançar e nenhuma menina se atreveu a dizer não. Foi o único baile que não "esquentei a parede", termo que era usado quando você ficava o baile inteiro encostado na parede, pois nenhuma menina quis dançar com você. Na vitrola o compacto simples do Dave McLean cantava a música we said goodbye, riscado de tanto tocar. Foi a música que mais gostei de tocar para dançar com as meninas! Minha mãe caprichou no bolo, enfeitou como se fosse um campo de futebol: - Teve vela mágica, bexigas, língua de sogra, bolo pullman, batata de casamento, pão de salsicha, bala de coco, brigadeiros, beijinhos, teta de nega, cabelo de palhaço, nariz entupido, além de doce de banana em forma de triângulo! Para beber meu pai comprou baré cola, grapete, cruch e gini!  Na hora de cantar o parabéns a você, minha mãe ficou ao meu lado, enquanto os meninos e meninas não paravam de comer e beber aquelas guloseimas! - Com quem será! com quem será! Dessa parte eu não gostava, nem na hora do:- É pique! É pique! Todos me felicitaram desejando feliz aniversário, muita saúde, prosperidade, aquelas coisas todas. E na hora do primeiro pedaço do bolo, não esqueci de presentear minha mãe que fazia aniversário no mesmo dia que eu! Teve parabéns para ela e meu pai ainda brindou com uma taça de vinho sangue de boi! - Parabéns a você mãe! Em todo dia nove de novembro e sempre!
Antonio Auggusto João