BANHEIRO INTERDITADO>>> Quando o Carlão descia na hora do almoço, o
chapeiro da Lanchonete Puppi´s tinha que se preparar, pois pelo menos três lanches
X Tudo ele iria comer. Fora a batata frita sempre regada com molho de tomate e
mostarda. Nós cansávamos de lhe dizer para melhor a alimentação, mudar o hábito
e comer uma comida mais saudável, mas não tinha jeito, nosso amigo Carlão era
vidrado num X Tudo.
Por comer demais, talvez, ele sempre chegava
atrasado do trabalho, dormia mal, tinha excesso de peso e por isso transpirava
bastante, tinha falta de ar, e quando o elevador do prédio estava quebrado ele
demorava uma eternidade para chegar ao sétimo andar, onde ficava nosso
escritório. Para completar esse cardápio altamente rico em calorias, às sextas
feiras, no happy hour, Carlão se
enchia de batatas fritas, porções de calabresa, tudo regado a muita cerveja.
Nos dias em que tínhamos de fazer o fechamento
mensal na empresa era o maior sufoco. Carlão se esquecia do horário da volta do
almoço, talvez pelo sono que ele tinha depois de acabar com o estoque de X Tudo
da Lanchonete Puppi´s e às vezes tínhamos de mandar a Glória ir busca-lo. Para
piorar a situação, logo que ele voltava do almoço, passava alguns minutos
trancado no banheiro escovando os dentes e fazendo um download interminável. A
Tia Márcia da limpeza tinha que espera-lo terminar de fazer o download para
poder limpar o banheiro, senão teria o trabalho dobrado. Por mais que
falávamos, ele não mudava seu comportamento. Não ia ao médico, não jogava
futebol conosco e vivia num mundo sedentário onde a coisa mais importante era
comer X Tudo.
Numa tarde de segunda feira, depois de ter detonado
três X Tudo e ter bebido uma Coca de dois litros no Puppi´s, Carlão entrou no
banheiro e de dentro de alguma casinha acabou dormindo. Com a demora, A Tia
Márcia foi até nosso departamento nós avisar para ir tira-lo de lá, pois precisava
limpar o banheiro. Fomos eu e o Mariano, mas o Carlão não atendia nosso
chamado, até darmos um pontapé na porta e vê-lo acordar assustado. Para tira-lo
do assento do vaso sanitário, tivemos que, eu e o Mariano puxarmos-lo pelas
mãos. Pior que tudo isso foi o cheiro do coco. A Tia Márcia até foi obrigada a
fechar a porta e lançar no ar um spray de Bom Ar de Lavanda.
- Porra
Carlão, que palhaçada é essa?
O Mariano ficou puto da vida e eu fiquei com pena
do Carlão, diante daquela situação constrangedora.
- Carlão,
assim não vai dar mora! Você precisa criar vergonha na cara bicho!
O Mariano estava puto da vida, com razão, pois não
foi a primeira vez que tivemos que livrar o Carlão de uma situação
constrangedora. Ele era muito querido pelos diretores da empresa, mas tudo
tinha um limite e o limite das pessoas com o Carlão estava se esgotando. E
assim que conseguiu se restabelecer dignamente, o levamos de volta para o
departamento, sem fazer que tudo aquilo causasse algum alarde na empresa.
Voltamos para o departamento depois de tomarmos
todos junto um café bem forte e parecia que a rotina iria voltar ao normal, até
eu ver a Tia Márcia em pé, de frente à minha mesa, fazendo um sinal com os
olhos querendo dizer que gostaria de conversar comigo em particular.
- Augusto,
pode vir comigo até o banheiro?
No trajeto até o banheiro, não imaginei o que
poderia ser, mas fiquei ainda mais preocupado quando percebi que a Rosa, a
fofoqueira da empresa, tinha filmado toda a situação e sorrateiramente veio
atrás da gente.
- Veja só
como está a casinha do meio. Disse a Tia Márcia, quando entramos no
banheiro dos homens.
Podíamos dizer naquele momento que o download que o
Carlão fez na casinha do meio não havia sido concluído. O troço não descia,
mesmo depois de darmos tantas descargas naquela privada fedorenta. A Tia Márcia
ainda insistiu tentando dissolver o coco do Carlão com alguns produtos
químicos, mas não obtivemos sucesso. O jeito foi lançar alguns sprays de Bom
Ar, até acharmos uma resolução para aquele problema nojento.
- Porra
Carlão, que merda! Disse o Mariano puto da vida!
Vamos
chamar os bombeiros! Disse a
fofoqueira da Rosa.
Até que não foi uma má ideia, mas a minha maior
preocupação naquele momento foi tentar de alguma maneira poupar o meu amigo Carlão
de todo aquele constrangimento, mas não consegui, pois a fofoqueira da Rosa
espalhou a notícia para a empresa inteira e colocou um aviso na porta do
banheiro dos homens em que se lia a seguinte inscrição: BANHEIRO INTERDITADO ! >>> TRECHO DO LIVRO
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