20 fevereiro 2021

APOCALIPSE - PANDEMIA

Muitas vezes, desde criança, nunca acreditei que um dia o mundo pudesse acabar. Sempre Tive certeza que Deus não faria isso. O tempo foi passando e depois de muitos acontecimentos, guerras, atentados, desastres da natureza, concebi que o próprio homem, desafiando a natureza, pudesse fazer o mundo acabar, mesmo que Deus não deixasse. A ciência e a tecnologia aliadas a uma medicina super avançada, evoluíram muito através dos anos, tanto que hoje a expectativa de vida chega quase aos cem anos. Entretanto, quando o mundo ficou momentaneamente despreparado,  surgiu um tal de covid-19. Um ser microscópio, traiçoeiro e maligno, que ataca covardemente despercebido, e mata, pois os seres humanos foram pegos de surpresa e alguns até encararam esse vírus maldito como se fosse uma gripezinha que poderia ser combatida por um tal remédio de nome hidroxicloroquina. Pois bem, o vírus se propagou no mundo inteiro, fazendo com que os países adotassem quarentenas, lockdown, com toque de recolher. A economia parou. A recomendação foi para que todo mundo ficasse em casa e que não houvesse aglomerações. Se essas medidas fossem para um período suportado pelas populações,  tudo bem, mas acontece que, ficando em casa e com a economia sem girar, mais cedo ou mais tarde a população teria que arrumar alguma forma de sobrevivência, para não morrer de fome. Por outro lado, como os mais humildes poderiam evitar as aglomerações morando com várias pessoas em pequenas casas nas comunidades, pegando transportes coletivos super lotados, sem contar as festas clandestinas e praias lotadas? De certo que o auxílio do governo ajudou várias famílias, fez com que muitos, sem trabalho, não morressem de fome, mas por outro lado muitos comerciantes em geral tiveram que fechar seus estabelecimentos nessa verdadeira pandemia de calamidade pública. Depois de um ano, analisando tudo isso, perguntei a mim mesmo como Deus estaria vendo tudo isso. Muitos e muitos morreram no mundo inteiro, de todas as idades, de todas as classes sociais e por uma aberração da ciências todas as outras doenças foram extirpadas e todo mundo morreu de covid-19. Talvez Deus estivesse assistindo até que ponto pudesse ir a ganância dos chamados dirigentes políticos à frente de todas as medidas para salvar o mundo. Na guerra da vacina que ainda se trava, podemos constatar quão perversos são os homens que foram escolhidos para salvar o mundo - Deus deve estar se sentindo envergonhado com o que criou. Primeiro o homem subestimou o vírus, desafiando-o sem armas e comparando-o com uma gripezinha. Depois, ao invés de se reunirem em causa própria e justa, posaram-se diante do espelho da vaidade, enquanto o povo sofrido, vendia até a alma ao diabo (Deus me perdoe) para poder sobreviver. O discurso sempre foi diferente das atitudes dos políticos canalhas e perversos, que fecharam cidades e foram passear de mãos dadas com o Tio Sam, clamaram para que fossem evitadas aglomerações e foram assistir futebol no meio da multidão ou participaram de passeios e reuniões sem a proteção de máscaras... E o povo, assistiu e assiste  tudo isso sem armas para se defender, sem dinheiro para sobreviver, sem emprego... e agora enfrenta uma fila interminável no esquema "Benjamin Button" de vacinação, com "fura fila" e "doses de vento". Acredito que esse relato não seja um exagero e nas conversas que tenho com Deus peço que ELE intervenha logo e acabe com esse vírus dando um sopro que possa restabelecer os organismos debilitados das pessoas doentes ou que faça cair uma chuva fina, que não chegue a inundar o mundo, mas que decepe de uma vez esse vírus da face da terra, pois se depender do homem ganancioso e palanqueiro, aqui em baixo, o mundo vai acabar.

TRECHO DO LIVRO

Antonio Auggusto João

06 fevereiro 2021

 

Quando olhei meu telefone e tinha uma mensagem urgente da MARILYN MONROE DO 81, do bloco 1, fiquei um tanto quanto preocupado, pois se tratava da mulher mais bonita e mais gostosa que eu já tinha visto e lembrei-me de quando tomei uns tapas da Débora, pois disse o nome da Marilyn quando eu estava sonhando! - 234-56-78 Markito a seu dispor! Em que posso ser útil?

  - Markito, é a Marilyn!

   - Pois não Marylin, como posso te ajudar?

A Marylin me pediu para trocar a fechadura da porta do quarto dela. Disse que às vezes era obrigada a se trancar no quarto, pois o marido era muito violento e batia nela. O ZÉ PEQUENO, marido da Marylin era temido no bairro. Ele tinha uma empresa de fachada e dizem as mesmas más línguas de sempre que ele é agiota e aluga clandestinamente máquinas de vídeo pôquer. Ninguém se atrevia a mexer com ele, inclusive era acusado, sem provas, de ter mandado matar alguns que lhe devia dinheiro. A coisa que mais intrigava os vizinhos era como uma mulher tão bonita como a Marylin podia viver com aquele baixinho, marginal e covarde, que batia em mulher. Cheguei a conclusão de que a Marylin vivia em cárcere privado, no apartamento 81 do bloco 1 e tinha medo de se separar do Zé Pequeno, pois ele era um bandido marginal:

   - Marylin, vou até a casa de ferragens comprar uma fechadura nova e já volto!

Estava um calor infernal naquele dia e eu estava derretendo dentro daquele macacão que usava, com o emblema da minha empresa, para me identificar perante os clientes. Talvez também fosse devido ao forte calor que a Marylin estava com um micro shortinho, apertadinho e sem sutiã! Meu Deus! A Débora vai me matar! Voltei da loja de ferragens e percebi que alguém me seguia. Não dei importância, pois o que mais queria era voltar logo e terminar o serviço, antes que algum vizinho cagueta me visse e me entregasse para a Débora. Não sei se estava sentindo tanto calor por estar de macacão ou por estar pertinho daquela mulher que exalava o perfume da mais linda flor e que seus olhos hipnotizavam a ponto de eu dar uma martelada no meu dedo! Tirei o macacão e fiquei de bermuda e camiseta. Estava muito calor. Deixei o macacão e minha botina na sala, sobre uma cadeira e entrei no quarto para substituir a fechadura. A Marylin ficou deitada na cama com o bumbum pra cima. Eu não estava conseguindo me controlar com tanta exuberância em minha frente e distraído, dei mais uma martelada no dedo e repentinamente a porta se fechou com o vento, travando a fechadura pelo lado de fora e ficamos presos eu e a gostosona da Marilyn dentro do quarto! Marylin ficou deitada de bruços na cama! Olhei pela janela do oitavo andar e vi o Zé Pequeno correndo e logo atrás veio a filha da put* da Fofoqueira do 122. Na certa ela dedurou para o Zé Pequeno que eu estava na casa dele, sozinho com a Marylin. Tudo bem! Estava trabalhando! Mas como iria explicar para o Zé Pequeno porque meu macacão e minha botina estava na sala e eu trancado no quarto com a esposa dele? Fiquei desesperado: Como ia explicar para a Débora? O Zé Pequeno entrou no apartamento furioso, com uma arma na mão e gritando o nome da esposa e me xingando de filha da put#! Tive vontade de pular pela janela, mas lembrei que estava no oitavo andar, a trinta metros de altura do chão. A Marylin estava dormindo e o Zé Pequeno, armado, desesperado, tentando arrombar a porta a todo custo. Depois de destruir a porta, o "marido traído" entrou feito um louco pra dentro do quarto, e com os olhos esbugalhados e com a arma apontada para a minha cabeça disse:

   - Onde está a minha mulher seu filha da put$?

   - Ela não está aqui Seu Zé Pequeno! Abaixe essa arma pelo amor de Deus!

Expliquei para o Zé Pequeno e para a filha da put& da Fofoqueira do 122 que a mulher dele não estava em casa, estava sozinho, consertando a fechadura do quarto e devido ao calor tirei o macacão e fiquei de bermuda e o vento fechou a porta e fiquei preso, trancado dentro do quarto. O Zé Pequeno não ouviu nada do que falei e depois que conferiu todos os cômodos do apartamento, inclusive embaixo da cama, constatou que sua esposa não estava em casa, abaixou a arma e ficou mais calmo. Porém, levantou a arma novamente quando a filha da put@ da Fofoqueira do 122 pediu para ele conferir dentro do guarda roupa: - Não tem ninguém aqui! Vamos embora Fofoqueira do 122. E você aí, cusão, termina logo esse trampo! Respirei fundo, ainda sem entender como tinha me livrado daquela situação e só dei conta do que realmente tinha acontecido quando a Débora me deu um safanão e disse: - Acorda Markito! Acorda amor! Hoje é domingo! Vamos à missa! Acorda!

24 janeiro 2021

EPITÁFIO

Se eu puder nascer novamente, quero ser "eu de novo", ter o mesmo pai, a mesma mãe, os mesmos irmãos e a mesma família. Vou desejar amar a mesma mulher, a única, para ter os mesmos filhos, regar o mesmo jardim, escrever os mesmos livros, ter os mesmos poucos amigos e comer os meus doces prediletos! Tomara que ainda exista o doce metade leite, metade cocoteta de negacabelo de palhaço e nariz entupido. Vou dar um pouco mais de liberdade para meus filhos e se eles quiseram tomar o segundo sorvete ou comer o segundo hambúrguer, vou deixar, sem reclamar, pois vou querer viver o hoje, sem me preocupar com o amanhã. Quero passear nos mesmos parques, assistir aos mesmos filmes, colecionar os mesmos livros, ter os mesmos desejos, pois minha vida foi bela e divina até essa página desse livro e mesmo se o amor for embora novamente e se as rosas não tiverem mais o mesmo perfume, quando eu chegar ao céu "novamente" e a porta se abrir, vou contar a Deus dando-lhe um abraço sincero, que "as minhas vidas" valeram a pena e peço àqueles que um dia possa de alguma forma ter magoado que possam me perdoar, pois eu "só quis viver"! 

Antonio Auggusto João

12 janeiro 2021

O FAROL

É como se eu estivesse nas profundezas de um mar nunca antes navegável, em meio às turbulências dos maremotos e dos tsunamis... É assim que me sinto em meio a tantas mágoas, tantas indiferenças e traições. As águas barrentas perdem a cor do verde, talvez azul, as ondas se tornam pesadas e machucam com feridas as minhas costas largas, cravadas com punhais de Toledo, fincados, transpondo a minha alma e o meu coração. - Nade meu filho! A voz era da minha mãe e não parecia estar no meu subconsciente, parecia estar ali, sussurrando em meu ouvido... - Nade meu filho! Nade! Nade na direção do farol, siga a claridade da luz que você verá mesmo na imensidão e na escuridão das águas barrentas. O que minha mãe quis me dizer nesta oração foi para eu não desistir, seguir em frente sem olhar para trás, sem ter medo de nada, pois a luz do farol é o sinal do meu Deus do impossível, aquele que não me deixa desistir, aquele que seca minhas lágrimas, cura minhas feridas e me renova as forças!  - Nade meu filho! Nade! A luz do farol conduz cada braçada sua cada impulso seu neste mar imundo, mas que ao final do oceano, ou no infinito, você vai encontrar a paz. Se você sofrer, ora a Deus que a luz se fará dentro de ti. Amém

Antonio Auggusto João

30 dezembro 2020

FELIZ ANO NOVO! FELIZ 2.021!

Esse ano não foi fácil para todos nós. Eu poderia escrever várias coisas tristes que aconteceram comigo, mas não vou me entregar, não vou ser derrotado, pois sei e já senti que Deus está comigo! ELE já me tirou de várias situações em que pensei que seria meu ultimo suspiro. Sei que se eu continuar forte ELE estará sempre ao meu lado, por isso não vou desistir jamais e vou continuar lutando para que o próximo ano seja bem melhor para mim e todos nós. Nem mesmo vou medir esforços se eu tiver que dar a minha vida para te salvar, mesmo se você for meu inimigo, pois foi assim que Deus me ensinou. Mas, se a minha derrota for inevitável, sei que a casa lá em cima estará aberta e vou poder entrar sem ao menos ter que bater à porta e serei recebido como um herói, pois Deus me disse que vai ser assim!

"Uma planta para crescer bonita e saudável tem que ser cultivada, tem que tirar os matinhos, ela precisa da água, ela precisa do sol. E é mesmo assim com a gente - filhos amados de Deus - Nós precisamos da fonte da água da vida do Senhor Jesus. Deixe se tocar por ELE. Deixe que ELE toque em você"

FELIZ ANO NOVO PARA TODOS!


23 dezembro 2020

DEUS SALVE AS BONECAS

O mundo pode parar de girar a qualquer momento e o sol pode ir embora para outro lugar em meio tantas bombas, guerras, tempestades, maremotos... Tamanha destruição. O que os olhos de uma menina veem no meio da guerra jamais será apagado de sua memória. Ela perdeu o pai, perdeu a mãe e o que restou foi uma boneca de pano faltando um pedaço, mas com os olhos arregalados ao ver tanta destruição física e em seu coração que se mistura ao coração da menina, como se fossem uma única criança, ofuscadas pela poeira de um cenário destruidor e quase deserto. A menina (e a boneca) não podem mais brincar, correr de um lado para outro, porque não existem mais jardins, não existem canteiros nem pássaros para que possam contemplar a natureza, não podem mais chorar porque a radiação dos bombardeios secaram suas lágrimas, rasgaram suas roupas... Mas ainda existe uma esperança quando a menina ergue as mãos ao alto e pede a ajuda de Deus: A menina quer "poupar" a boneca para que não veja seu sofrimento e de todo o povo Sírio, cercado da ignorância de seus líderes, restando-lhes somente a providência divina da ressurreição. 

Antonio Auggusto João

SOU DE ESCORPIÃO

 Quando uma ferida demora a cicatrizar é porque a apunhalada foi forte e traiçoeira e é por isso que temos de ter uma autodefesa. Acredite em você e nos astros que protegem o seu signo de escorpião, não deixe que o seu inimigo se prevaleça. A sua autodefesa é o signo de escorpião, traiçoeiro também quando é preciso. Vive pacato em seu mundo, não faz mal a ninguém, desconfia de tudo até que uma prova pode lhe dar garantia de que está se tratando com alguém que pode ser confiável. Não toque em um escorpião com “vara curta”, o contra ataque pode ser perigoso e venenoso. Não tente ferir um escorpião, nem traí-lo pelas costas de seu corpo ensanguentado, pois quem é de escorpião tem veneno e suas feridas se cicatrizam rapidamente, sem ninguém perceber. Se agoniza, é porque está disfarçando seu próximo ataque, um contra ataque mortal, pois também pode ser traiçoeiro, quando é para se defender. A minha vida não é um mar de rosas, mas tenho espinhos que protegem a minha alma e a minha couraça. Quando o meu inimigo tenta me ferir, Nem mesmo sua traição pode me deter. Querem me destruir, me matar, acabar com minha existência, mas não conseguem, pois tenho veneno, sou de escorpião!

Antonio Auggusto João

DAI-ME SENHOR

Dai-me Senhor um coração que saiba refletir, um coração que saiba interpretar os sinais dos tempos. Senhor Jesus, a preço do seu sangue, dai-me um coração que contemple o perdão, que tenha a chave da esperança, da perseverança e da compreensão. Dai-me um coração sem preconceito, sem risco da discórdia e da violência. Senhor Jesus, mostre-me o caminho da razão, da fé que o homem exprime e da harmonia das comunidades. Dai-me o sacrifício, se for necessário para me restabelecer. Ensine-me o caminho da razão e ponha afeto no meu coração. Senhor dai-me um coração igual ao teu - Meu Mestre! Dai-me a paz de espírito, pois preciso tanto do teu perdão. Estou disposto a te obedecer, então dai-me um coração igual ao teu! Dai-me Senhor, um coração que saiba amar, um coração que saiba te obedecer e que esteja com o Senhor até o fim! O teu amor me sustentará, a tua graça não me faltará! Atravessarei os desertos, subirei as montanhas se preciso for para te seguir! Somente o Senhor sabe meus segredos e meus sonhos e me conhece com a palma de suas mãos. A ti estendo minhas mãos, tu és meu porto, tu és meu cais e diante de ti os meus joelhos se dobrarão!

Antonio Auggusto João


ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU

A escola estava agitada e preparando uma grande festa em comemoração ao dia dos pais. Rafael estava animado, pois sua mãe, mesmo presa na penitenciária do estado, havia prometido que ele ia passar o dia dos pais com seu pai que não via há muito tempo. Rafael vivia mais na rua do que em casa. Não era um menino de rua problemático. Estudava na parte da manhã e na parte da tarde ficava num semáforo pedindo uns trocados que dava tudo para sua avó, quando chegava em casa ao anoitecer. A festa do dia dos pais sempre foi muito importante para Rafael. Todos seus amigos da escola estavam sempre com os pais, no campo de futebol, nas festas juninas, natal, etc. Rafael havia prometido aos amigos que todos iriam conhecer seu pai, além da saudade, da necessidade que tinha de estar com ele, principalmente naquela data. A mãe de Rafael estava presa por tráfico de drogas. E não foi só uma vez, ela foi reincidente várias vezes. O pai, coitado, vivia como um zumbi na cracolândia. A mãe prometeu o pai a Rafael num momento de loucura, por não ter mais o que dizer para o filho. Vendo aquela situação, sua avó resolveu contar toda verdade para Rafael antes da festa do dia dos pais na escola, para que Rafael não fosse humilhado novamente pela falta do pai. - Vó onde fica essa cracolândia?  Sua avó ficou com o coração partido e apenas respondeu que ficava muito longe. Naquela tarde Rafael foi novamente ao semáforo pedir esmola. A todos que conseguia conversar perguntava onde ficava a cracolândia até que um motorista de ônibus explicou depois que Rafael disse-lhe que teria que buscar o pai para leva-lo na festa da escola. Além de motorista de ônibus, aquele homem fazia parte de uma ONG chamada Anjos da Madrugada e que prestava assistência à famílias que tinha algum membro envolvido com as drogas. No dia seguinte, véspera da festa da escola, Rafael apareceu no semáforo a espera do motorista que havia prometido que o levaria até a cracolândia para buscar seu pai. Rafael apareceu no horário marcado, junto com sua avó, e todos foram para a cracolândia buscar o pai do menino. Rafael, garoto de sete anos de idade, sabia que o mundo das drogas era cruel, mas não tinha a mínima noção de como era a cracolândia. O motorista e sua avó se arrependeram de levar o menino. - Bem vindo à cracolândia. Bem vindo ao inferno de zumbis. De certo não poderiam deixar Rafael ver aquelas pessoas vagando, possuídas por todos os demônios das drogas, vivendo como zumbis moribundos. Deixaram Rafael na perua da ONG Anjos da Madrugada, junto com uma assistente social e ficaram horas procurando seu pai. Pelos dados catalogados que várias ONGs possuem, descobriram que o pai de Rafael estaria internado numa clínica de recuperação perto dali. Após mais alguns horas de procura, descobriram, infelizmente para Rafael, que seu pai havia morrido fazia dez dias, vítima de over dose de um coquetel de drogas e foi enterrado como indigente, apesar de ter documentos. Foi difícil explicar ao garoto todo aquele enredo e de colocar em si o símbolo das drogas no lugar do símbolo do pai. Rafael e sua avó voltaram para casa depois daquele dia desgastante e de realidade triste. No dia seguinte Rafael voltou às ruas para pedir esmolas. Não foi à escola, não foi à festa do dia dos pais. Não tinha pai.  - Tio me dá um trocado? Nos vários carros que Rafael abordava via famílias alegres, pais, filhos, e ele não tinha essa alegria. O pai morto pelas drogas e a mãe presa, também pelas drogas. - A vida é mesmo uma droga. Com os trocados que Rafael trouxe para casa naquele dia, sua avó pode comprar o alimento do dia. Comeu, pediu bênção a avó e foi dormir. - Vó não vou ser como minha mãe e meu pai. Eu quero ser alguém na vida. Segunda feira, mesmo sem pai, mesmo sem mãe, voltarei para a escola. Rafael se deitou, mas não conseguiu pegar no sono. A imagem do pai não lhe saia do pensamento. Imaginava também a festa da escola, com todos seus amigos se divertindo e distribuindo os presentes aos pais. Entre virar-se para um lado e outro se viu viajando entre nuvens e uma grande escada iluminada com luzes amarelas. Rafael resolveu subir. A cada degrau que subia sentia-se mais leve e uma energia tomava conta de seu corpo. Ao chegar no alto, encontrou uma enorme porta entreaberta. Ouvia-se uma música suave e alguns meninos e meninas com cabelos de algodão tocando instrumentos musicais. Ficou com muito medo de entrar, não havia ninguém na porta "fiscalizando", mas não queria ser chamado de penetra igual a tantas vezes que teve que fazer isso para pedir um prato de comida.  - Você não pode entrar ainda. Uma voz lhe disse que não podia entrar, mas Rafael não conseguiu identificar quem o questionava. Olhou novamente pela porta entreaberta e constatou que estava tendo uma festa e que os meninos e meninas estavam de mão dadas com seus pais. Os presentes eram abraços, beijos, carinho... Amor. Rafael pensou:  - Como poderei entrar nesta festa? Eu não tenho pai! E novamente Rafael ouviu a mesma voz dizendo que ele teria que descer as escadas novamente e entrar pela porta de baixo. Rafael assim o fez.  Ele demorou pouco tempo para subir, mas estava demorando muito tempo para descer e se sentiu muito cansado no trajeto. Quando chegou embaixo, tentou abrir a porta, mas era muito pesada, não conseguia. Não havia ninguém para ajuda-lo e então resolveu fazer uma oração que havia aprendido nas poucas aulas de catecismo que havia frequentado. Assim que terminou a oração, Rafael, ainda ajoelhado, viu a porta, sozinha, se entreabrir o suficiente para poder entrar. Ao entrar ouviu muito choro, pessoas adultas, arrependidas, outras rebeldes, inquietas... Foi andando por um grande corredor, muito escuro, quente, enfumaçado, tropeçando nos pés de pessoas desesperadas, homens que ficavam deitados como se estivessem implorando misericórdia, como se estivessem pedindo perdão. Na lateral do corredor existiam lanternas. Rafael pegou uma lanterna e continuou caminhando até que encontrou um homem que parecia estar dormindo. Retirou uma foto do bolso detrás da bermuda e confirmou sua suspeita:- Era seu pai. Rafael pegou um bilhete que estava na mão direita de seu pai e que dizia:

     - Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.   

Então Rafael abraçou e beijou seu pai. Ouviu dele várias vezes a palavra perdão expressada na forma de beijos e abraços, de amor. Imediatamente uma luz se acendeu em meio à escuridão. O pai de Rafael se levantou, e abraçados saíram daquele lugar tenebroso. A porta automaticamente se abriu e se acharam na grande escada. A mesma voz autorizou-os a subir, dizendo que a porta se abria no instante em que o amor se manifestasse naquele lugar de terror. E ao chegarem lá em cima, bem lá em cima, a porta já estava aberta. Os meninos e meninas de cabelos de algodão receberam Rafael e seu pai e ambos entraram na festa onde os pais e filhos se adoravam e se amavam, se divertiam na festa comandada por um Senhor de barbas brancas emocionado, com lágrimas nos olhos e abraçado com Rafael e seu pai. Em meio a emoções, o velho Senhor de barbas brancas disse a Rafael que tudo estava resolvido, a festa iria acabar, mas existiria tempo para outras tantas festas e que naquele momento ele teria que retornar à sua casa, aos seus estudos, e num futuro, depois de passar por alegrias e tristezas, retornaria aquele lugar e ficaria junto ao seu pai e a tantas pessoas que ama e ainda amará, de quem conhece e ainda irá conhecer, para que as festas sejam ainda mais animadas e o sentimento de amor seja eterno: - Acorda Rafael! Não vá perder a hora de ir para a escola.  - Já vou vó! Já vou. 

Antonio Auggusto João

20 dezembro 2020

O SILÊNCIO DA PENHA

... Maria estava convicta que João havia se regenerado e isso a fez acreditar em seus sonhos e nesses sonhos estava o seu grande amor. João tornou-se calmo e carinhoso e o grande desejo de Maria aquela época era engravidar. Como isso não acontecia marcou uma consulta médica para ver se o problema era com ela ou com João. João se recusou a fazer qualquer exame e depois de muito tempo Maria o viu nervoso e agressivo novamente. Como Maria estava tudo bem, os resultados dos exames assim diziam. Os anos de convivência fizeram com que Maria soubesse o momento certo de convencer João e ela insistiu até que conseguiu convencê-lo de também fazer os exames. Antes, chegariam no dia de uma grande festa de um amigo de João. João estava feliz, estava com grandes amigos e comemorando bodas de prata de Ricardo e Cecília, amigos de infância de João. Durante a festa João teve uma recaída. Ficou empolgado por estar na presença de vários amigos os quais não via há muito tempo, e acabou se perdendo na bebida. Durante o tratamento nos AA, João teve várias recaídas, mas naquela festa João extrapolou e Maria resolveu repreendê-lo de uma forma mais dura: - Querido! Vamos embora. Você está passando dos limites. - Não me perturbe, estou me divertindo com meus amigos. Respondeu João. João não conseguia parar em pé de tão alcoolizado. Os amigos perceberam a grave situação, mas ao invés de ajudarem Maria, se esquivaram.  - Isso é um problema entre marido e mulher. Disse um deles. João teve que sair carregado da festa e quando chegou em casa caiu bêbado na cama e dormiu com a roupa do corpo.  No dia seguinte João acordou mais cedo que Maria. Tomou um banho, trocou de roupa e foi ao médico. Queria provar a Maria que não havia nenhum problema com ele e que não era sua culpa o fato de Maria não engravidar...

TRECHO DO LIVRO 

VIDAS NEGRAS

Quanto estava procurando estágio em um hospital, o aluno Antonio de Medeiros chegou para a entrevista e disse: - Sou estudante de medicina e marquei para conversar com o Dr. Carlos Cardozo! A mulher branca que o atendeu perguntou: - Você quer estágio para aluno de enfermagem?  Ele respondeu: - Não, estágio para aluno de medicinaEla repetiu novamente: Estágio para alunos de enfermagem? Foi difícil até cair a ficha da mulher branca e chamar o médico para a entrevista. Outro fato aconteceu durante um estágio, quando Antonio de Medeiros examinava uma paciente internada. Ele, juntamente com um colega, era responsável pelo leito em que a paciente estava. Sempre que ele chegava para examina-la, eram vários xingamentos e ela pedia para chamar o médico. Achava que porque ele ainda era um estudante, até que um dia chegou quando ela estava sendo examinada por uma enfermeira branca, e ela disse: - O enfermeiro já chegou? Onde ele está? A enfermeira lhe disse que ele que era o médico e ela a enfermeira. Daí entendeu então o porquê ela pedia para chamar o médico. Outro fato marcante vivenciado pelo ainda aluno Antonio de Medeiros foi quando uma colega também negra, que estava um ano adiantada e depois de formada em dois mil e dezessete, iniciou seus trabalhos como médica dermatologista num hospital público da cidade e em seu primeiro dia também foi anunciada como enfermeira e para mais desprezo ainda, na reunião em que foi apresentada aos outros servidores, na saída, ouviu de uma senhora, uma enfermeira branca que aparentava vários anos de serviços prestados: - Você acha que vai entrar no hospital com esse cabelo? Esses são alguns exemplos vivenciados pelo aluno Antonio de Medeiros durante o ano de dois mil e dezoito que resolveu “ignorar”. Sua ideia era a de terminar o curso, se formar como médico e seguir uma carreira de êxitos, independentemente desses fatos absurdos, muitas vezes cruéis. O importante dali em diante seria sua segurança, sua competência e dedicação em salvar e cuidar de vidas.
TRECHO DO LIVRO

19 dezembro 2020

ALGUMAS CARTAS GUARDADAS NA MEMÓRIA - VOL. V

Vejo o sol se escondendo atrás das montanhas, as ondas do mar bem calmas e uma suave brisa no ar. No céu o voo rasante do condor enfeitando a paisagem, no mesmo momento que emerge das águas do mar uma sereia, mulher exuberante que aparece toda vez que o condor está voando. Queria eu ser o condor, para sensibilizar a sereia e tê-la numa visão privilegiada, filmar seus movimentos nas águas do mar e vê-la revoltando seus cabelos e confundindo seus olhos com a imagem do mar, vista de cima, entre nuvens de algodão, no céu azul. Na manhã seguinte, cai no mar novamente no mesmo momento em que o sol estava nascendo. No céu, não avistei o condor. Deveria estar guardando suas energias para vir rasante quando avistasse a sereia mergulhando no mar. E essa paixão, quando avassaladora, confunde o real com o imaginário e em meus devaneios sou o pássaro condor, feroz, em busca da minha presa, minha sereia, dotada de toda sentimentalidade do amor perfeito, onde os sonhos se tornam realidade e as nossas vidas passam a ser a plenitude do amor maior, feitio de paixão e assim posso morrer de amor, ressuscitar no final do dia, quando o sol se por e as estrelas uma a uma iluminarem o céu como os olhos da sereia. Vou olhar para o céu em todos os finais de tarde, ver a paisagem com o sol e as montanhas – uma obra prima, e o reflexo da sereia no espelho do mar. E como pássaro condor, impondo minhas asas, voarei para buscar você – minha sereia, e saciar minha fome de amar, pois nem mesmo nas profundezas do mar azul, posso ter em meu pensamento que sou infeliz, pois tenho você, sereia. Vejo em teus olhos da cor do mar toda a sentimentalidade do bem querer. Tenho nos raios de luz dos teus cabelos toda maneira de te querer bem, desejar, possuir. Assim, transformo-me no Pássaro Condor, feroz, a procura de amor. Caço toda matéria nos mais longínquos cantos para poder te oferecer como prêmio de toda minha devoção. Mergulho no mar -caço você - minha sereia... Tento entender como esta presa que acorrenta meu coração, sufoca minha alma, possa me possuir assim, com tanta ternura: - Mulher, metade amor metade paixão - que nem os dentes afiados de um tubarão sedento possa me conter...que nem a mais raivosa das tempestades possa me deter - Sou o teu príncipe do marSou homem desvalido de tanto amar. Ressuscito quando o sol se põe, para viajar num sonho possível, onde a cada noite dou um pedaço do meu coração. Mesmo sangrando, meu coração pula do peito e pode ainda bater por longos dias, como prova de meu amor. De tanto amar, me vem o Pássaro Condor, no meu íntimo, na sua devoção, com a presa em suas mandíbulas, trazendo mais um pedaço de você, para que brote novamente o meu coração. 
TRECHO DO LIVRO...

PARA AUDREY, COM AMOR!

Os preparativos para a festa de formatura estavam avançados e os alunos ansiosos, sentimentais nas conversas e nas reuniões de despedida.  Muitos mudariam de cidade em busca de uma colocação profissional e outros, como Jonathan, atravessaria o oceano para estudar, se aperfeiçoar num intercâmbio graças à bolsa de estudos que ganhou classificado como um dos melhores alunos da universidade federal. Jonathan estava muito feliz pela oportunidade de estudar, ainda mais sabendo que depois de dois anos voltaria com a garantia de um excelente emprego numa empresa multinacional. Entretanto, não escondia sua preocupação com Audrey, que prometeu esperá-lo para se casarem. Audrey estava em tratamento de uma doença rara, que prejudicava sua coordenação motora, cujos médicos ainda não tinham um diagnóstico preciso. Assim sendo, preferiu adiar seu intercâmbio e Jonathan iria sozinho. Mas, o mais importante naquele momento foi o baile de formatura, comandado pela orquestra municipal, alunos formandos e seus familiares estavam felizes e se confraternizando pelo diploma e pelo objetivo conquistado. Um a um, os casais de alunos eram anunciados pelo mestre de cerimônias e sob palmas e vivas passavam por um corredor para receber os comprimentos em meio aos flashes que registravam todos os momentos da festa, para ficarem guardados para sempre. Quando Jonathan segurou na mão de Audrey ao serem anunciados, sentiu a emoção da despedida. - Atenção formandos para a hora da valsa! O mestre de cerimônias anunciava o momento da valsa. A primeira seria com o pai ou mãe, depois padrinhos e a terceira seria para os casais enamorados. A hora da despedida estava chegando e todos estavam emocionados e talvez tenha sido por isso que Jonathan não tinha dado importância ao fato de que Audrey estava tremendo, quando segurou em sua mão para dançarem. Durante a valsa os olhos de Jonathan e Audrey ficaram perdidos, filmando todos os detalhes que fariam parte de uma saudade breve e ansiedade pelo regresso que um dia iria chegar. Os olhos de Audrey se fixaram nos olhos de Jonathan, que se preocupou quando sentiu todo peso de Audrey em seus braços. A música entoava uma harmonia agradável e romântica que os olhos de Audrey abriam e fechavam, contemplando um largo sorriso adocicado em seus lábios de mel. - Você está se sentindo bem? Bastou Jonathan questionar Audrey que ela caiu, literalmente, em seus braços. Parecia desmaiada. A música parou e todos se assustaram com a cena. Audrey ficou sem movimentos e desacordada. Logo a levaram para longe dali e a orquestra voltou a tocar para que não deixasse um ar de preocupação ainda maior entre as pessoas. Uma ambulância logo chegou e levou Audrey para um hospital.  Chegando, foi removida imediatamente para uma UTI, tendo Jonathan sempre ao seu lado. Das crises, aquela havia sido a mais preocupante, a que deixou os pais de Audrey e Jonathan mais preocupados. Quatro dias se passaram e Audrey não demonstrava nenhuma reação.  Enquanto aquilo acontecia, os médicos repetiam as baterias de exames, mas sem chegarem a um diagnóstico preciso e concreto. Todos ficaram preocupados e Jonathan posicionou a todos que adiaria a viagem. Não teria condições psicológicas para viajar para o outro lado do mundo e deixar Audrey naquele estado. Depois de quinze dias Audrey acordou. Ficou consciente, reconheceu a todos e ficou preocupada por não ter visto Jonathan ao seu lado. Jonathan ficou muito cansado, passou dias e noites no hospital ao lado da mulher amada e tinha ido para casa, tomar banho, trocar de roupa para voltar novamente ao hospital e ficar ao lado de Audrey. Ao vê-la consciente novamente, disse a ela que nada era mais importante que sua saúde e que havia tomado uma importante decisão: - Audrey, não vou mais viajar. Não posso ficar longe de você e não vou me dar bem do outro lado do mundo sabendo que você não está bem aqui. Por mais que Jonathan tenha relutado em ficar, foi convencido pelos familiares e pela própria Audrey a ir embora em busca do seu sonho de realização profissional: - Ficarei bem meu amor. Ficarei te esperando até sua volta. Vá e realize seu sonho. Disse Audrey na despedida. Jonathan partiu preocupado e com lágrimas nos olhos. Audrey teve uma razoável melhora, mas sua doença ainda era um mistério para os médicos. Algum tempo se passou e Audrey começou a lecionar numa escola particular de línguas. Conversava com Jonathan no máximo duas vezes por semana. Jonathan por sua vez, tinha uma vida atribulada de estudos e estágios e pouco tempo de lazer. Quando sobrava algum tempo tinha que descansar para poder enfrentar a maratona pesada de trabalhos e estudos, mas estava satisfeito, porém com muita saudade da família e principalmente de Audrey. Quando existe a saudade no coração, o tempo é cruel e custa a passar. Nos momentos em que ficava só e isolado, Jonathan recordava com amor dos momentos felizes que passava com Audrey, mas ficou mais despreocupado, pois houve uma boa melhora na saúde da mulher que tanto amava. Perto de completar um ano distante de Audrey, Jonathan ligou para dar uma excelente notícia: Passaria o natal com ela e toda família graças a uma semana de férias antes de iniciar seu ultimo ano de intercâmbio. Audrey não se coube de tanta alegria e não via a hora de chegar o dia de reencontrar seu grande amor. Quando Jonathan chegou, a casa estava toda harmoniosa, com enfeites natalinos e ao ver Audrey à distância, correu até que pudessem se abraçar: Jonathan e Audrey se abraçaram e se beijaram no reencontro e não quiseram perder um só minuto para ficarem juntos e aproveitarem o pouco tempo que teriam antes de Jonathan retornar aos estudos. Muitos planos estavam fazendo para depois do último ano em que Jonathan concluiria seu intercâmbio e voltaria de vez para uma vida nova junto de Audrey. Assim, as festas de natal passaram depressa e Jonathan teria de retornar. Audrey lhe fez um pedido antes de partir: - Quando se aproximar a data do seu retorno, plante uma flor, espere ela brotar e traga-a para mim num pequeno vaso. Jonathan disse que atenderia o pedido de Audrey, sem mesmo perguntar o porquê e partiu.Passado um tempo Jonathan recebeu a notícia de que Audrey havia tido novas crises e que tinha ficado internada. Jonathan se desesperou, ameaçou largar tudo é vir ao socorro dela, mas foi convencido a ficar. Jonathan ficou desconfiado de que estavam lhe escondendo algo sobre a saúde de Audrey e isso fez com que começasse a ter níveis mais baixos de avaliação onde fazia estágio e estudava. Novas crises apareceram e Jonathan sentia que algo grave estava ocorrendo com Audrey. - Os médicos descobriram a doença e ela está internada e sendo tratada. - Eu quero falar com ela! - Quando for o momento e os médicos assim permitir você falará com ela! E quando chegou o momento em que Jonathan conseguiu falar com Audrey, sentiu que estava dispersa, falando coisas sem sentido, mas lembrou-se da flor e pediu que Jonathan não esquecesse de trazê-la. Finalmente chegou o dia de Jonathan regressar, de reunir os dois lados. Em sua bagagem o sucesso de um intercâmbio perfeito, emprego garantido e possibilidade de concretizar todos os planos que fez, ao lado de Audrey. Seu pensamento positivo fazia com que ele imaginasse encontrar Audrey bem, curada de sua enfermidade e feliz, correndo para abraçar e beija-lo, matando a saudade de seu grande amor. Jonathan segurava a flor amarela com o maior cuidado, como se fosse um prêmio, um troféu, um objeto de devoção. Lembrou-se que poderia escrever um cartão para colocá-lo junto com a flor, e assim o fez: - Por favor, quero comprar um cartão de presente! - Sim senhor! Pode escolher entre esses! - Eu gostei deste! - O senhor vai escrever alguma coisa? - Sim. Escreva por favor: Para Audrey, com amor! O voo que trouxe Jonathan de volta teve vários atrasos, várias conexões e o tempo que ficou incomunicável foi de quase três dias. Ao chegar, estranhou que ninguém estava lhe esperando no aeroporto. Pegou um táxi e seguiu para casa. No caminho sentiu um calafrio, suas mãos ficaram geladas, assustou como se um vulto tivesse passado à sua frente e segurou com mais cuidado a flor amarela que carregava. Chegando em casa não tinha ninguém de seus familiares e dos familiares de Audrey lhe esperando. Chegou a chamar por eles, mas ninguém respondeu. A casa estava vazia, nem os cachorros estavam latindo como de costume, até que apareceu um senhor de quem Jonathan não conhecia e que lhe entregou um bilhete com um endereço, onde alguém pedia que fosse imediatamente até o local assim que chegasse: - Meu amigo, vá depressa antes que seja tarde! Disse o desconhecido. Jonathan se desesperou, mas continuou segurando com todo o cuidado a flor que Audrey lhe pediu. O táxi demorou a chegar aumentando ainda mais a ansiedade de Jonathan que depois, questionado pelo motorista do porque estava chorando, disse-lhe que estava com a sensação de ter perdido um pedaço de seu coração e de sua alma. E ao chegar no local determinado no bilhete, Jonathan adentrou ao recinto. Ouviu choros e gemidos. Não quis olhar no rosto de ninguém antes de ver Audrey. Jonathan estava sereno, como se estivesse sendo guiado por uma força suprema, divina, como se estivesse sendo emanado por um raio de luz. Jonathan sabia onde estava e porque estava naquele local, só não quis acreditar. Um local obscuro, triste, com cheiro forte de parafina de tantas velas que estavam sendo queimadas, misturando-se com o forte perfume de flores de todas as espécies e cores. Nas laterais de paredes geladas, ficavam os vultos de seus familiares e amigos. No centro um caixão branco, "enfeitado" com flores coloridas, e dentro dele estava Audrey, de olhos fechados, sem expressão ou marcas de sofrimento. Encostado ao caixão existiam várias coroas de flores e faixas com a palavra "saudade". Jonathan entrou bem devagar com a flor em suas mãos e avançou até o caixão sem dizer nada a ninguém e ninguém o interpelou. Jonathan colocou a pequena flor amarela bem perto do rosto de Audrey, deu-lhe um beijo na face e fez o sinal da cruz. Do bolso, tirou um lenço branco para enxugar suas lágrimas e um cartão, onde estava escrito "Para Audrey, com Amor!

ANTONIO AUGGUSTO JOÃO

CONVERSANDO COM DEUS

Escrevi na contracapa do livro Conversando com Deus, algumas palavras caladas para que pudesse agradecer, apenas agradecer. Sei que Ele me ouve, lê meus pensamentos e me protege, até quando os lobos feitos hereges tentam me enganar. Na contracapa escrevo: Meu Deus, esta carta é para o Senhor saber o quanto estou "decepcionado". Afinal, não houve tantas tempestades para que eu pudesse salvar o meu amor. Não pude andar sobre as águas escusas para salvar quem tanto amei. A fúria dos vulcões foi apenas meu coração querendo entrar em erupção de tanto amor a quem o Senhor no meu caminho pôs. Meu Deus! Fazeis chover para que no meu jardim as rosas possam exalar o cheiro do meu amor, fazeis com que a correnteza das lágrimas de felicidades que chorei encontrem os rios de águas claras cristalinas, puras tão divinas, para eu poder matar a sede do meu bem. Deus, vou lhe chamar para lhe mostrar e conversar com meu amor. O Senhor vai ver como fiquei depois que me apaixonei. Deus, quando encontrá-lo, vou lhe contar que conquistei a felicidade que tanto sonhei. Assim, pode esperar que verás uma alma que retratará um pedaço de mim, a pessoa que me completa e que me faz tão bem. Daí, vou confessar o quanto é bom amar. E é por isso que eu te amo e rezo para cuidar de mim, da minha vida, que apesar de tantas agonias, sou feliz sim, por nunca deixar de acreditar no Senhor! Amém! Que Deus esteja sempre iluminando a vida de todos nós.
ANTONIO AUGGUSTO JOÃO

CARTA PARA MINHA MÃE

Toda vez que aproxima o dia das mãe, penso em comprar o melhor presente para poder oferecer: -Não se preocupe mãe, não vou esquecer do seu presente não! O seu presente será algo simples, assim como eu e você gostamos, pois o que vale mesmo é o nosso amor. Sei que você nunca ligou para presentes. Preferia que nós estivéssemos ao seu lado para você cuidar de cada um, dividindo o seu imenso coração, sabendo como cada um gostava de ser tratado, pois você nunca se cansou de distribuir carinho e amor para toda a família. Ontem cheguei tarde, cansado, dormi com a roupa do corpo e me esqueci de lhe dar um beijo de boa noite, de despedida. Sei que você me compreende e não vai ficar chateada. Foi assim que aprendi a viver e foi você quem me ensinou. Penso em você todas as noites e em todos os momentos, principalmente quando estou em apuros e não posso correr para seus braços, não tenho as suas asas para me proteger e o seu colo para me abrigar:  - Mãe, enxugue as minhas lágrimas! Sopre o meu coração, pois está doendo tanto e tenho medo que ele pare de bater, de tanta saudade que tenho de você!  Ao escrever esta carta, prometi que não ia chorar. Que iria lembrar-se dos nossos momentos felizes e até das vezes em que você puxou minha orelha ou me deu uma chinelada na bunda, das tantas artes que eu aprontava... - Mas mãe... Não dá!  As minhas lágrimas são como as gotas de orvalho que eu ficava apreciando na janela embaçada pelo frio, esperando você chegar para que eu pudesse te abraçar e te beijar, pois a única tristeza que apertava nossos corações foi a saudade. Queria muito que você pudesse ler esta carta. Sei que me daria o melhor conselho, o afeto e o carinho que vive fugindo de mim. Peço a DEUS que isto seja possível... - Sei que será! Se por algum motivo não possa ler esta carta, não faz mal... Mas, faça um esforço, peça para Deus deixar você ler essa carta! Rezarei para todos os Santos intercederem, clamarei em todas as orações para que este escrito possa chegar até você, aí no céu, e que os anjos possam te entregar esse meu presente, para que eu receba de ti uma mensagem de paz e você possa sentir novamente todo o amor deste teu filho e de meus irmãos, que nunca vão te esquecer.

ANTONIO AUGGUSTO JOÃO

SUBINDO A RAMPA

Estava pronto para sair para o trabalho quando o telefone tocou: - Era minha mãe. Ela estava aflita. Tomei um gole de café, fui até o quarto das crianças, sai às pressas dando tchau:  - Seu pai não está bem. Disse minha mãe ao telefone. Meu pai precisava ir com urgência para o hospital. Assim que acordou, minha mãe o convenceu: - Ele passou a noite inteira gemendo, se movendo na cama de um lado para outroCheguei rápido. Meu pai estava sorridente, procedimento que sempre usou para não deixar minha mãe preocupada: – Ele escondia a dorPediu para fazer a barba antes de sair, passou a colônia de alfazema e colocou a camisa para dentro da calça. Ele agia como se não estivesse acontecendo nada. Apesar da gravidade aparente, ele estava bem otimista, assim como todos nós. No caminho, não falamos em doenças, médicos e hospitais, mas sim de recordações de alguns momentos de nossas vidas: – Momentos felizes! Não poderia, nunca mesmo, deixar de escrever esse acontecimento, depois de tantos sonhos que tive com meu pai, apesar de saber bem o final. É mais uma página do Livro da Minha Vida, das nossas vidas, gravado para sempre na memória de toda a família. Chegamos ao hospital rapidamente e existia uma fila aonde várias pessoas iriam se internar. Pela ordem de chegada, meu pai ficou perto da rampa que dava acesso a sala de internação. Minha mãe não pode ficar ao lado dele e fiquei na recepção cuidando dos papéis para a internação. Do último diálogo que me lembro, minha mãe pediu para que ele ajeitasse a camisa dentro da calça. De repente, ouve-se uma voz grave, pedindo para que as pessoas daquela fila começassem a andar em direção a sala de internação. Lembro que meu pai disse: - Fiquem com Deus! Minha mãe respondeu:- Amém! Meu pai ficou parado no início da rampa, a todo o momento olhando para trás, procurando por mim e pela minha mãe, acenando com a mão direita e segurando um lenço branco na mão esquerda. Quando chegou sua vez de caminhar em direção a sala de internação, lembro perfeitamente do meu pai Subindo a Rampa – Acenando! Como querendo dizer até breve, adeus... Como uma criança que se perdeu do braço da mãe, mas que caminhou - Subindo a Rampa - De encontro aos braços de DEUS.
ANTONIO AUGGUSTO JOÃO

70 x 7

... Da cabeceira da cama pode tirar o teu retrato, não vou querer recordar. Ao passar pela ultima vez no jardim que um dia brotaram rosas coloridas, não deixe rastros sem saídas, não pise fundo nas terras negras, pois vem de lá toda a inspiração para meus versos. Tome muito cuidado com os buracos que você mesma deixou para que eu pudesse cair em suas armadilhas. Ao sair de casa, não derrube o que estiver pela frente, não destrua o que já está destruído e nem bata a porta com a força da sua indignação, pois eu não estou vendo a tua ira. Passando pela sala de estar junto à mesa de jantar, não se esqueça de recolher as rosas sobre a mesa... Elas não vivem mais... Ficaram murchas, [cresceram-se em espinhos], secaram com o tempo, morreram como o amor que um dia eu e você pensamos ter existido. Eu não sou um homem perfeito nem o filho preferido de Deus. Eu tenho paciência e faço todos os dias o exercício do amor. Não mostro a Deus o tamanho dos meus problemas e sim aos meus problemas o tamanho de Deus. Já nos perdoamos mais de setenta vezes sete, mas o remorso quando retorna vem como a força de um furacão e uma palavra mal dita pode incitar novamente à ira de nós dois. Naquela tarde eu estava terminando de escrever um romance.  Pra variar, escrevia sobre dor, tristeza, desilusão... Desamor. É fácil escrever sobre nossas dores. Difícil é encontrar um final feliz, pois a felicidade quando é plena e verdadeira, advém de uma dor. Eu não estava esperando por ninguém é quando o interfone tocou, achei que foi por engano, mas a outra voz, do outro lado da linha, queria muito falar comigo. - Eu Preciso falar com você.  Pode me atender? Eu bem sabia de quem era a voz do outro lado da linha, mas não queria acreditar. Logo pensei em discussões, novas brigas, ofensas... Fazia quase dois anos que eu não a via. Estava bem mais magra, olheiras profundas e cor pálida: Estava acabada. Pensei que de certo vinha conversar sobre algo que ainda tínhamos em comum, mas poderia ter me telefonado. Aí é que vem a retórica, a oportunidade de dizer a coisa certa. Também vem a vingança, oportunidade de regressar, de reverter o prejuízo da última briga, mas sou capaz de amar o mais ferrenho inimigo, pois aprendi com a vida e talvez seja por isso que sofro com isso. De certo que não lhe disse que tinha prazer em revê-la, porém ouvi paciente a sua queixa. Realmente ela estava precisando de ajuda e se me procurou, acreditei que teve várias portas fechadas e aqueles que se diziam amigos e foram contra mim, a deixaram na mão, sozinha na contra mão da vida. - Sua situação é muito delicada. Fazia tempo que não nos olhávamos nos olhos. Pude ver a mulher que conheci, sem os vícios mundanos, sem o orgulho de quem não conquistou nada e vivia pisando nas pessoas. Como já disse, longe de eu ser o filho preferido de Deus, pois eu também tenho os meus pecados e vai chegar uma hora que vou ter que ser perdoado. A vida inteira tive o coração mole e diante de mim existia uma pessoa pedindo ajuda.  É claro que não neguei, não virei às costas, não bati a porta e nem carreguei comigo as rosas sobre a mesa, pois as rego todas as manhãs esperando dias melhores. Foi difícil a reconstrução de seu problema. Dispus-me a ajudar sem piedade, sem desejar algo em troca... Ajudei porque o meu espírito é assim, fraterno, bondoso e caridoso. Porém, a vida nos prega cada peça, nos decepcionamos tanto com as pessoas, mas o que fica gravado sempre é a nossa honestidade e a nossa consciência. Foi só a situação começar a se organizar, com a minha máxima ajuda, que a discórdia imperou novamente. Os olhos cresceram, os saltos também...E a prepotência votou a reinar e com isso vieram novamente as brigas, as implicâncias e discordâncias, mas eu sou compreensivo e sempre soube a hora de sair de cena e deixar o barco navegar sem que eu esteja no timão. Mas a vida continua e o barco segue... E se por acaso, mais uma vez, ela bater à minha porta pedindo socorro, é claro que vou abrir a porta, pois o exercício do perdão não tem fim e é por isso que sigo a instrução do criador em perdoar setenta vezes sete. Contudo, sei que a vida pode me colocar do outro lado e eu tenha que bater à porta dela. Se isso acontecer não sei se serei bem recebido, da mesma forma que a recebi. Realmente sou sincero em dizer que não tenho certeza. Talvez o meu orgulho me impeça de procura-la, em qualquer circunstância, mesmo se for a última pessoa da face da terra. Se eu tiver que aceitá-la, acredito que minha história jamais irá terminar, pois mesmo que eu desapareça, existirão vários rastros para que outras pessoas possam me encontrar. Mas, se por acaso eu me perder e estiver na beira do abismo, pedindo que alguém me estenda a mão, sei que ela surgirá para me empurrar ribanceira abaixo, pois acredito que seja a única pessoa nesta vida que deseja o “melhor” para mim!

ANEOBALDA - BONECA DE DEUS

Deus me deu Você para que eu me enxergasse, para manter-me forte e ajudar-me a tocar em frente. Deus me deu Você para partilhar meu coração e minha alma, para trazer-me coragem e esperança, para ensinar-me o significado do Amor Incondicional. Deus me deu Você para aceitar-me como sou para entender minhas dificuldades, para que eu tivesse um Amor de verdade. Deus me deu Você para trazer-me lições, ajudar-me a crescer e fortalecer meu espírito. Deus me deu Você para dar-me esperanças, clarear meus pensamentos e encorajar os meus sonhos. Deus me deu Você para inspirar-me a ser o melhor que eu possa, para mostrar-me a importância da verdade e da alegria de oferecer meu coração ao conforto de outro coração. Deus me deu Você para ensinar-me a deixar as tristezas de lado, para eu declarar-me vulnerável quando assim estou e para mostrar meu verdadeiro eu e minhas ocultas esperanças. Deus me deu Você, um anjo, uma Boneca... E embora Deus tenha te levado de volta porque sentiu muita, mas muita saudade de Você, eu compreendi, porque Deus também sente saudade e chora a falta de seus anjos. Deus me deu Você para amar, para assumir e entregar minha confiança da forma que eu sempre quis. ELE me deu Você porque tinha um plano: Fazer-me feliz! Eu sou feliz por ter podido ter sido o seu Pai, Boneca de Deus, na qual Deus confiou e me fez verdadeiramente FELIZ!




18 dezembro 2020

AMOR EM PEDAÇOS

- Juninho! Venha aqui meu filho! Vem pegar o dinheiro para comprar o pão! Todos os dias pela manhã minha mãe pedia para ir buscar o pão. Ela sabia o horário certo que o Seu Manuel da padaria fazia os pães e pedia para eu ir de bicicleta, e os comprava ainda bem quente. Eu ia numa vula até a padaria e quando voltava minha mãe já havia preparado o café com leite. Minha mãe deixava tudo pronto. Depois do café eu lavava a louça enquanto minha mãe se preparava para ir trabalhar. - Tchau mãe! Bom dia e bom trabalho! - Juízo menino! Não vai se atrasar para ir à escola. - Minha mãe trabalhava no supermercado da cidade. Saía de casa às dez e voltava às sete horas da noite. Logo que minha mãe saía para trabalhar, eu ficava no campo a jogar futebol com os amigos e em seguida voltava para casa, tomava banho e me arrumava para ir à escola. Minha mãe deixava meu almoço pronto e eu somente esquentava. Em seguida, pegava minha bicicleta e ia para a escola. No caminho, sempre parava na ponte. Encostava a bicicleta e ficava jogando pedrinhas no rio. De cima da ponte via as pedrinhas afundando no rio e fazia um pedido, conforme minha mãe tinha me ensinado. Eu pedia para Deus proteger minha mãe. Meu pai morreu quando eu nasci. Minha mãe nunca deixou faltar nada e o meu amor por ela sempre foi infinito. Eu chegava à escola sempre trinta minutos antes do início das aulas. Ficava na classe lendo as matérias dos livros que a professora iria comentar no dia. Minha mãe me ensinou que se estudasse a matéria antes, seria mais fácil de compreender quando a professora fosse transmitir aos alunos. A prova de português estava bem difícil. Era a última do bimestre. Depois entraríamos em férias. Graças a minha mãe, que sempre fazia as lições de casa comigo, conseguia sair bem nas provas: - Qual é a resposta da questão número cinco? Uma voz bem baixinha, de menina, atrás de mim, pediu a resposta da questão cinco - Uma voz doce, que chegava aos meus ouvidos come se fosse uma canção romântica. Era a voz de Isabel. Isabel estava me pedindo uma cola da questão número cinco. Deixei meu lápis cair duas vezes no chão, o que indicava alternativa B. Terminei a prova, pegue minha bicicleta e fui embora pra casa, sem antes passar na padaria do Seu Manuel para comprar os pães para o café da tarde. O seu Manuel sempre estava com um sorriso largo no rosto e todo mundo gostava dele. - Seu Manuel, posso pegar um doce de leite? Eu pegava tudo que queria na padaria, sem exagerar. O Seu Manuel anotava tudo numa caderneta é no final do mês minha mãe pagava. No dia seguinte eu estaria em férias. Minha mãe faltou no trabalho pela manhã, pois houve reunião de pais e mestres e entrega dos boletins do bimestre. - Tranquilo mãe! Só vai ter verde no boletim! Minha mãe sabia que eu era um aluno esforçado e nunca precisou chamar minha atenção para estudar. Enquanto minha mãe participava da reunião, fui até a ponte para jogar pedrinhas no rio. Joguei as pedrinhas, fiz vários pedidos e agradeci Deus por ter tido mais um bimestre de bons resultados na escola. - Muito obrigada! Era Isabel. - Eu sabia que te encontraria na ponte. Você passa aqui todos os dias? - Venho na ponte para pedir e agradecer a Deus, jogando pedrinhas no rio. Isabel me agradeceu pela cola que eu tinha lhe passado na prova de português. Naquele dia conversamos bastante e demos muitas risadas. Depois daquele dia começamos a nos encontrar todos os dias na ponte, até o dia do primeiro beijo. Assim que beijei Isabel, joguei uma pedrinha no rio e pedi a Deus que a sensação que tive durasse para sempre. Isabel sempre foi meiga, doce e carinhosa. Todos diziam que um completava o outro. A minha mãe ficou muito amiga da mãe dela e estávamos todos felizes naquela época. Eu sempre fui romântico. Encontrava-me com Isabel todo fim de tarde na ponte. Ela chegava primeiro. Estacionava sua bicicleta e ficava olhando para o rio de cima da ponte. Na verdade eu me atrasava de propósito, pois passava pelo jardim da Dona Odete e colhia uma rosa para dar a Isabel. Quando estava em casa sozinho, pegava um caderno e escrevia cartas para Isabel. Ela adorava e respondia. Certa vez minha mãe pegou o caderno e leu o que eu escrevia para Isabel e me disse que um dia eu poderia escrever um livro que poderia se chamar Amor em Pedaços, pois as cartas contavam pedaço por pedaço as aventuras de amor que eu tinha com Isabel. As aulas reiniciaram e Isabel passou a ir todos os dias de bicicleta. Encontrávamos na ponte, jogávamos algumas pedrinhas no rio, fazíamos nossos pedidos e depois rumávamos para a escola. - Qual foi seu pedido hoje? Perguntou Isabel. - Pedi que nosso amor dure para sempre! - Eu também! No dia seguinte fui até a cidade com minha mãe. Não fui à escola. Tinha que passar no dentista para fazer um tratamento. Combinei com Isabel para nos encontrarmos na ponte à tarde, depois que terminasse as aulas. Minha mãe prometeu fazer um café da tarde para nós. Quando me despedi de Isabel senti um frio na barriga, os olhos dela estavam brilhando como se fosse uma estrela e no abraço apertado que demos, senti come se estivéssemos com os pés fora do chão. ... Voando! Depois do dentista, cheguei afobado para encontrar Isabel. - Calma menino! Sua namorada não vai fugir! Fui até a ponte para me encontrar com Isabel. Depois passaríamos no seu Manuel para pegar os pães e iríamos para minha casa. Cheguei à ponte e não vi Isabel. Achei que estava adiantado para o encontro. Fui até o jardim da Dona Odete e apanhei uma rosa. Voltei para a ponte, mas Isabel não havia chegado. Joguei uma pedrinha no rio e pedi que ela chegasse logo, mas não chegou. Então fui para casa, pois os pães estavam esfriando e minha mãe ia ficar brava comigo. Peguei minha bicicleta e rumei para casa. Quando passei pela avenida principal encontrei uma multidão e um carro virado na contramão. Achei estranho, pois vi minha mãe no meio da multidão. Fui me aproximando e vi que tinha ocorrido um acidente e tinha um corpo estendido no chão. - Ela foi atropelada! Ela foi atropelada! Minha mãe me olhou com os olhos arregalados. - O que a mãe de Isabel está fazendo caída no chão? Minha mãe arregalou os olhos novamente na minha direção. Olhei para o chão e vi a bicicleta de Isabel, retorcida, moída e seu corpo estirado no chão. Isabel estava morta e sua mãe estava chorando e cortando seus longos cabelos. Foi atropelada enquanto estava indo ao meu encontro. Um carro na contramão a pegou em cheio. Eu nunca tive convivido com uma perda. Quando meu pai morreu eu era um recém-nascido, tinhas meses, não tive sentimentos, não tive reação. Fui até o corpo de Isabel e a chamei. Ela não respondeu e não abriu os olhos. Eu peguei minha bicicleta e sai correndo. Minha mãe tentou me segurar, mas não conseguiu. Fui até a ponte e peguei todas e quantas pedrinhas que coubessem em minhas mãos e atirei no rio: - Deus, traga o meu amor de volta. Faça com que ela se levante e abra os olhos! O café da tarde vai esfriar. Minha vida é como um rio e vou aproveitar cada dia dela. Agora estou sozinho, mas o tempo passa rápido demais e Deus vai trazer o meu amor de volta. Oh meu Senhor, meu Deus, traga o meu amor de volta e a minha dor desaparecerá! Não espere mais, traga o meu amor de volta e faça a minha dor desaparecer... Meu amor, se eu pudesse fazer você voltar te diria uma só palavra: Eu te amo! Entre luzes que iluminam estradas e paisagens com cores de arco-íris, reviveremos todos os nossos sonhos e os momentos de ternura que a vida nos proporcionou e que ainda vai nos proporcionar para a eternidade. Não ficarei mais um só segundo sem abraçar você, sem segurar a sua mão quando você tiver medo e te fazer dormir quando você estiver com medo dos trovões e das tempestades. Mar de risos e ouro dos céus: Ali eu viverei cada dia da minha vida! Quando o amor está longe, o tempo não faz planos e peço: Oh meu senhor! Meu Deus! Traga o meu amor de volta e faça a minha dor desaparecer. Isabel foi enterrada num caixão branco coberto de flores e assisti de longe vendo sua mãe segurando seus cabelos, cortados para recordar. Foi muito difícil retomar a vida sem Isabel. Fiquei alguns dias sem ir à ponte até que minha mãe me levou um dia. Jogamos pétalas de rosas ao invés de pedras, das mesmas rosas que eu colhia do quintal da Dona Odete, com sua autorização. No último ano do ginásio, ao invés de participar da festa resolvi participar do concurso literário. Aos participantes foi designado escrever um livro de romance e fui o vencedor. O Livro se chamou Amor em Pedaços e nele estava escrito às cartas de amor que escrevi para Isabel e as que ela escreveu para mim. Depois da cerimônia de premiação peguei minha bicicleta e fui para a ponte. Desci até a beira do rio e lancei nas águas cada página do livro, junto com uma pedra, e as vi navegar para algum lugar, onde Isabel pudesse estar. E ao lançar a última página, onde estava escrito "fim", surgiu das águas um anjo encantador, de cabelos compridos, de olhos brilhantes como estrelas, no rosto de Isabel. Tentei nadar para me aproximar, mas a correnteza impediu que eu chagasse. Ainda tive tempo de acenar, acenar para Isabel que se perdeu nas águas límpidas do rio, enquanto minha mãe me chamava para ir buscar o pão na padaria do Seu Manuel. E ao passar na ponte sobre o rio, encontrei um papel rasgado - voando, uma carta borrada, molhada pelas águas do rio:  “Nas águas escuras desse rio existem os ‘restos mortais’ das cartas que eu escrevi pra você e você escreveu pra mim. Falam sobre amor e ternura... Carinho e devoção. E nas correntezas das águas escuras, Amor em Pedaços são papéis rasgados, borrados de lágrimas, feridos, perdidos da mesma forma que eu me perdi de você e você se perdeu de mim. Papéis borrados de lágrimas não sangram no peito, mas se desfazem com a força da correnteza e dos ventos. Papéis borrados de lágrimas não se ferem em espinhos e não sentem dor se o calor da paixão ainda existir, por menor que seja, pra secar as feridas, formar novamente as palavras sinceras das cartas poéticas que sempre escrevi sobre o nosso amor. Papéis borrados de lágrimas não têm alma. Mas têm coração! E podem ressuscitar a cada manhã, todo dia, mesmo feridos, mesmo rasgados, mesmo encharcados de águas escuras, manchados pela saudade, pois não se cansam de morrer de amor!”
TRECHO DO LIVRO