31 dezembro 2014

O MESTRE DA MISERICÓRDIA

Os homens de nosso tempo, embora aceitem Jesus Cristo como um grande líder religioso, estão cada vez menos dispostos a reconhecê-lo como Deus. A Sua divindade, no entanto, é a coluna vertebral da religião cristã, sem a qual todo o edifício da fé rui inevitavelmente. Afinal, se Jesus é Deus, tudo o que disse é verdadeiro – e a Ele devemos, pela fé, “plena adesão do intelecto e da vontade”, já que Deus “não pode enganar-se nem enganar” ninguém –, mas, se é apenas uma pessoa “iluminada”, a religião que fundou pode muito bem ser remodelada ao gosto dos tempos.
Para provar que Jesus é Deus, o autor C. S. Lewis serviu-se de um argumento que já era apresentado desde o início da Igreja e apresentou-o no livro Mere Christianity [“Cristianismo puro e simples”, no Brasil]. Ele chamou o argumento de “the shocking alternative – a alternativa estarrecedora”:
Entre os judeus surge, de repente, um homem que começa a falar como se ele próprio fosse Deus. Afirma categoricamente perdoar os pecados. Afirma existir desde sempre e diz que voltará para julgar o mundo no fim dos tempos. Devemos aqui esclarecer uma coisa: entre os panteístas, como os indianos, qualquer um pode dizer que é uma parte de Deus, ou é uno com Deus, e não há nada de muito estranho nisso. Esse homem, porém, sendo um judeu, não estava se referindo a esse tipo de divindade. Deus, na sua língua, significava um ser que está fora do mundo, que criou o mundo e é infinitamente diferente de tudo o que criou. Quando você entende esse fato, percebe que as coisas ditas por esse homem foram, simplesmente, as mais chocantes já pronunciadas por lábios humanos.”
“Há um elemento do que ele afirmava que tende a passar despercebido, pois o ouvimos tantas vezes que já não percebemos o que ele de fato significa. Refiro-me ao perdão dos pecados. De todos os pecados. Ora, a menos que seja Deus quem o afirme, isso soa tão absurdo que chega a ser cômico. Compreendemos que um homem perdoe as ofensas cometidas contra ele mesmo. Você pisa no meu pé, ou rouba meu dinheiro, e eu o perdôo. O que diríamos, no entanto, de um homem que, sem ter sido pisado ou roubado, anunciasse o perdão dos pisões e dos roubos cometidos contra os outros? Presunção asinina é a descrição mais gentil que podemos dar da sua conduta. Entretanto, foi isso o que Jesus fez. Anunciou ao povo que os pecados cometidos estavam perdoados, e fez isso sem consultar os que, sem dúvida alguma, haviam sido lesados por esses pecados. Sem hesitar, comportou-se como se fosse ele a parte interessada, como se fosse o principal ofendido. Isso só tem sentido se ele for realmente Deus, cujas leis são transgredidas e cujo amor é ferido a cada pecado cometido. Nos lábios de qualquer pessoa que não Deus, essas palavras implicam algo que só posso chamar de uma imbecilidade e uma vaidade não superadas por nenhum outro personagem da história.”
“No entanto (e isto é estranho e, ao mesmo tempo, significativo), nem mesmo seus inimigos, quando lêem os evangelhos, costumam ter essa impressão de imbecilidade ou vaidade. Quanto menos os leitores sem preconceitos. Cristo afirma ser ‘humilde e manso’, e acreditamos nele, sem nos dar conta de que, se ele fosse somente um homem, a humildade e a mansidão seriam as últimas qualidades que poderíamos atribuir a alguns de seus ditos.”
“Estou tentando impedir que alguém repita a rematada tolice dita por muitos a seu respeito: ‘Estou disposto a aceitar Jesus como um grande mestre da moral, mas não aceito a sua afirmação de ser Deus.’ Essa é a única coisa que não devemos dizer. Um homem que fosse somente um homem e dissesse as coisas que Jesus disse não seria um grande mestre da moral. Seria um lunático – no mesmo grau de alguém que pretendesse ser um ovo cozido – ou então o diabo em pessoa. Faça a sua escolha. Ou esse homem era, e é, o Filho de Deus, ou não passa de um louco ou coisa pior. Você pode querer calá-lo por ser um louco, pode cuspir nele e matá-lo como a um demônio; ou pode prosternar-se a seus pés e chamá-lo de Senhor e Deus. Mas que ninguém venha, com paternal condescendência, dizer que ele não passava de um grande mestre humano. Ele não nos deixou essa opção, e não quis deixá-la."
Não é possível que Cristo tenha sido simplesmente “bom”, já que Ele mesmo manifestava, em seus discursos, a consciência de ser Deus encarnado. Não só o disse explicitamente, por exemplo, aos fariseus: “Antes que Abraão existisse, eu sou”, como os próprios judeus tinham entendido aonde Ele queria chegar: “Não queremos te apedrejar por causa de uma obra boa, mas por causa da blasfêmia. Tu, sendo apenas um homem, pretendes ser Deus!”.
Diante disso, ou se admite que Jesus é Deus ou, então, trata-se de uma pessoa má, seja moral – não sendo Deus, Ele teria mentido –, seja intelectualmente – se Se enganou, não sabendo de Sua própria identidade, é alguém evidentemente louco. O apologista protestante norte-americano Josh McDowell chama isso de “trilema dos três L’s”: se Jesus não é Lord (Senhor), ou é um lier (mentiroso) ou um lunatic (lunático).
Mas, Ele não pode ser um mentiroso perverso. Um homem que amou tanto, a ponto de entregar a própria vida, que transformou inúmeras pessoas com o Seu olhar bondoso e misericordioso, não pode ser um farsante. Ao mesmo tempo, descarta-se que Ele seja um lunático. Se não tinha consciência de quem Ele próprio era, como possuía uma consciência tão aguda do que é a pessoa humana, a ponto de lermos nas páginas do Evangelho como que uma “radiografia” de nossas vidas?
Assim, não resta às pessoas outra alternativa senão crer na divindade de Nosso Senhor.
Os teólogos liberais, no entanto, tentam escapar desse ótimo argumento por duas vias. Primeiro, acusando as Sagradas Escrituras de mentirosas: para fugir de Deus feito homem, eles dizem que o Novo Testamento não é nada mais que uma invenção da comunidade primitiva, que criou um “Jesus da fé” em total oposição ao “Jesus histórico”. Como explicar que esses cristãos aparentemente mentirosos tenham sido os mesmos a darem a vida por aquilo em que acreditavam, é um mistério que esses teólogos se recusam a responder. Homens de fibra, que derramaram o próprio sangue pelo Evangelho, não se identificam com uma comunidade de aproveitadores e charlatães, que teriam forjado uma história só para enganar os outros. Afinal, ninguém dá a vida por uma mentira. As pessoas mentem para salvar a vida, não para perdê-la, como fizeram os primeiros mártires da fé cristã.
Esses mesmos teólogos também recorrem a uma “orientalização” de Cristo: após uma visita à Índia, Jesus teria saído de lá pregando o panteísmo hinduísta, o qual foi o motivo de Sua morte. Mas, qualquer pessoa com um pouco de conhecimento sobre religiões sabe que os ensinamentos do Evangelho são absolutamente incompatíveis com as crenças orientais.
Ainda que toda essa explicação seja convincente, não é suficiente para dar a uma pessoa a fé, que “a Igreja a professa como virtude sobrenatural, pela qual, sob a inspiração de Deus e com a ajuda da graça, cremos ser verdade o que ele revela, não devido à verdade intrínseca das coisas conhecida pela luz natural da razão, mas em virtude da autoridade do próprio Deus revelante”. Uma vez diante dos preambula fidei, é preciso bater às portas de Deus e pedir-Lhe, humildemente, o tesouro da fé.

28 dezembro 2014

RESCUER

Numa tarde de domingo, Dr. Abreu estava na UTI cumprindo seu plantão. Atendeu vários pacientes e deixou para atender Seu Alfred por ultimo, pois Maria Julia e Dona Maximiliana haviam sido autorizadas a entrar na UTI e ele iria ficar com elas. Ao sentar-se numa cadeira ao lado do leito de Seu Alfred, Dr. Abreu, olhando para uma imagem de Jesus Cristo que havia na parede ao alto, lembrou-se da vez em que foi convidado para o jantar que o apresentaria para os pais de Maria Julia. A imagem de Cristo parecia que conversava com ele e ele respondia a Jesus que nunca teve mágoa do Seu Alfred por sua rejeição por ele ser negro. Esse tipo de violência social até que é comum em alguns países e o mais importante foi ter tido o carinho de Maria Julia e Dona Maximiliana. Certa vez, num comentário que fez para Dona Maximiliana e Maria Julia, disse que sonhava que um dia o Seu Alfred iria querê-lo bem, iriam dar risadas juntos, tomar cervejas assistindo jogos de futebol. Dr. Abreu chegou a derramar algumas lágrimas e pediu ao Cristo que curasse Seu Alfred, pois a medicina já havia feito tudo que tinha sido possível:
          - Filho!
          Dr. Abreu ouviu uma voz rouca, com dificuldades de pronunciar as palavras e quando se virou para o leito viu o Seu Alfred com os olhos abertos, lacrimejados, engolindo seco e novamente se esforçando para dizer:
          - Filho!
          Rapidamente todo corpo médico foi acionado e pouco tempo depois Seu Alfred teve uma piora e morreu. Dias depois Maria Julia e Dona Maximiliana convidaram o Dr. Abreu para tomarem um chá em sua residência. Lá, contaram que viram toda a cena ou os últimos momentos de vida do Seu Alfred e se sentiram confortadas pela graça divina de poderem presenciar o ultimo ato do Seu Alfred em forma de agradecimento arrependimento e perdão para com o Dr. Abreu.
TRECHO DO LIVRO "RESCUER"

31 agosto 2014

JESUS E O PODER DO IMPÉRIO ROMANO



Toda a História de Jesus passa-se dentro do Império Romano, na realidade Judaica. Aqui não vamos fazer um estudo sobre Jesus, mas sim sobre o seu legado, sua vivência no Império Romano e a fundação da Igreja Católica. Por isto, muitas vezes vou dissertar sobre um Jesus mais “Histórico”. Lógico que Jesus é o Senhor, meu Deus e Salvador, mas aqui é preciso evidenciar a História, o Homem, a sua ação na Sociedade da época e do seu legado. Não temos certeza da data exata do nascimento de Jesus, mas sabemos que Jesus nasceu durante o reinado de Herodes, o Grande, que os romanos haviam designado para governar a Judéia.
A Infância de Jesus só é citada no evangelho segundo Mateus 2:13-23, após a fuga para o Egito, a família de Jesus permaneceu nessa região até à morte de Herodes. Nessa altura, deixam o Egito e estabelecem-se em Nazaré, de modo a evitar terem de viver sob a autoridade do filho e sucessor de Herodes, Arquelau.
Muitos evangelhos apócrifos falam da infância e juventude de Jesus, mas estes só servem para uma ilustração cultural, mas não podemos ter a veracidade dos mesmos .
A única referência à adolescência de Jesus nos Evangelhos canônicos ocorre em Lucas 2:41-52. Segundo este evangelista, aos doze anos Jesus foi com os pais de Nazaré a Jerusalém, para a festa de Pessach, a Páscoa judaica, e lá surpreendeu os doutores do Templo pela facilidade com que aprendia a doutrina, e por suas perguntas intrigantes.
Outra informação que temos é que Jesus era filho de um Carpinteiro e que aprendeu dele esta profissão.
O Certo é que Jesus teve uma vida comum no meio do povo, no meio da sua família, sendo filho, jovem, homem e trabalhador até aos 30 anos. Ele foi educado dentro da tradição da sua religião, o Judaísmo, estudou a Torá, e possivelmente falava várias línguas faladas naquele território palestino.
Aos 30 Anos Jesus começou a sua vida pública e assim começou a formar um povo. Inicialmente, era um pequeno grupo mas que foi crescendo nos três anos de sua pregação. Uma pregação que falava do Reino de Deus, numa revolução que começa no interior de cada um, que se aplica no amor ao próximo, derrubando as barreiras da classe social, da raça, sexo e da cor de pele.
Além da pregação, os milagres faziam com que as pessoas ficassem maravilhadas e a notícia das curas espalhava-se por todo o território palestino. As pessoas corriam atrás de Jesus dos milagres, mas encontravam um Jesus da Palavra que alcança a alma e faz uma revolução interior, uma mudança de vida, uma proposta que ia aos desejos de libertação de um povo oprimido pelo Império Romano. Sobre a formação da Igreja, podemos dizer que Jesus já pensava em formar um povo, pois vemos que Ele pregava sobre a comunidade e como Ele formava firmemente os Seus discípulos. Mais que formar um povo, o novo povo de Deus, Jesus fundou a igreja que foi construída sob uma forma de comunidade visível na qual as pessoas eram admitidas através do batismo
A escolha dos Apóstolos em número de doze é certamente feita na simbologia das doze tribos de Israel das quais foi formado o Povo de Israel e agora sob os doze Apóstolos passa a ser formado o novo povo de Deus. Eram 12 Apóstolos, mas Jesus tinha ainda vários discípulos, mas aos doze, Jesus dá orientações próprias: ensinar, batizar, expulsar os espíritos impuros e curar as doenças. Enquanto os discípulos continuavam a ter uma vida própria, moravam em suas casa e tinham seus trabalhos, os Apóstolos deixaram tudo, família, ocupação e passaram a estar com Jesus durante todo o tempo e sendo formados intensivamente.
Dentre os doze Apóstolos existe uma posição de relevo em relação a Simão, pescador, filho de João Barjona. Se lermos o evangelho sabemos que ele é sempre destacado entre os Apóstolos. Jesus dá a Simão um segundo nome Pedro que quer dizer Rocha, Rochedo. A Este Apóstolo é dada uma missão especial: dirigir o pequeno rebanho, isto é, a Igreja, depois da morte de Jesus.
Leia : MT 16 , 13 – 19 (A eleição de Pedro por Jesus é confirmada mais tarde após a Sua morte e ressurreição.)
Leia: Jo 21,15-17 ( Vemos aí um encargo dado a Pedro de pastorear o Rebanho de Cristo. Um Primado, um “ Papado”.)
Voltando a Jesus, falamos sobre a relação entre Ele e os Judeus. Sendo um deles e sabendo da sua lei, Jesus pregava e assumia-se como o Messias anunciado pelos profetas e que o povo de Israel esperava.
Mas se Jesus se apresentou como Messias, pregava a verdade e realizava prodígios e milagre, por que o Povo judeu não o aceitou?
Temos que ver a mentalidade judaica: para os judeus, o Messias seria um líder político, um chefe terreno, que libertaria o povo na luta contra os opressores que os libertaria e formaria o reino de Deus, que restauraria o Reino de Israel. O Messias seria um político, governador que comandaria Israel e que traria o esplendor desta nação sobre as outras.
Jesus anuncia o reino, mas o reino de Deus, o reino dos céus, propunha sim uma revolução, mas a que levaria à conversão.
Para os Romanos, Jesus era visto como uma pessoa que fazia aos poucos uma revolução social que começava a ser pregada aos pequenos, aos pobres, uma classe social subjugada pela elite herodiana. Jesus prepararia uma revolução comunitária da família, dos povoados. Jesus falava da sociedade da época, posicionava-se diante da realidade econômica, falava das relações entre a pessoa e o estado. Os Milagres libertavam o Povo, as Curas traziam soluções para as dores e a multiplicação dos pães falava da necessidade do povo que precisava ser suprida. Aos olhos do Império, Jesus era um Líder que não os preocupava muito, mas que aos poucos começou a dividir a sociedade e a fazer muito barulho.
Para os Romanos, o reino dos céus era visto como uma metáfora para a libertação popular e tal interpretação levou Pilatos a condenar Jesus à morte após um processo tumultuado pela insistência da Elite Sacerdotal de Jerusalém  que apresentava  Jesus como inimigo dos Judeus e  perigoso profeta que  ameaçava o Império Romano.
Quando Pôncio Pilatos questiona Jesus sobre o dito reino e Jesus afirma sobre o Reino dos Céus, mas a referência de reino para um romano é do terreno. 
TRECHO DO LIVRO

13 julho 2014

ALGUNS RETRATOS - ÁLBUM DE FAMÍLIA


Aprendi que o único remédio para curar a saudade é o tempo, porém, a dor não passa na primeira dose nem tampouco ameniza rapidamente. É preciso um pouco mais de concentração, distração, e a melhor coisa que se tem a fazer é se apegar em alguma coisa como, por exemplo, um trabalho, uma viagem, tomar gosto por ler, escrever, passear... O que não pode ser feito e se trancar num quarto escuro e não ver o sol nascer e nem se por. É claro que isso não é uma receita infalível que vai servir de base para todo mundo, pois depende muito se a pessoa quer superar o trauma, o drama, pois esquecer é impossível e as recaídas são consequências normais durante esse “tratamento”. A base de tudo é Deus, seja qual a religião você praticar. Não se chateie nunca com Deus, pois às vezes custamos a entender qual foi o propósito do acontecido e veremos e compreenderemos que assim como nós, Deus também sente saudade de seus anjos e os chamam de volta antes do normal em nosso conceito. A única coisa que ainda me deixa angustiado é que, apesar de acreditar que o que chamamos de morte possa ser a nossa vida eterna, a saudade de abraçar e beijar quem você ama e que não mais vê pode causar uma depressão, uma tristeza muito grande e é contra isso que devemos reagir e buscar outros propósitos, se apegar em pessoas e coisas que possam nos proporcionar de novo a alegria, para aproveitarmos nossos momentos, mesmo depois de uma tragédia, uma tempestade, um dilúvio, pois se acreditarmos no Todo Poderoso, as águas dos tsunamis serão calmaria se a paz estiver em nossos corações>>>> TRECHO DO LIVRO
Antonio Auggusto João

24 junho 2014

POR UM TRIZ !

O médico estava desesperado e eu não sabia o que estava acontecendo. Eu não estava sentindo absolutamente nada e comecei a sentir um medo terrível quando dois enfermeiros entraram na sala para “socorrer” o médico, sim “socorrer o médico”, pois parecia que ele estava tendo um ataque de nervos. Quando os enfermeiros olharam para o monitor onde o médico, tremendo, apontava com o dedo indicador, eu desci da esteira e olhei também. Não sentia nada, pensei que o médico é que estava com algum problema, mas todos os fios e todo monitoramento estava sendo feito no meu coração. E foi quando eu ouvi a palavra “morte súbita” que me desesperei. Achei que eu estava morrendo e que o médico e os enfermeiros estavam tentando descobrir a causa. Mas como? Eles olhavam para mim, todos com cara de choro e eu olhava para o monitor tentando entender alguma coisa, quando perguntei:

- Meu coração está parando?

Ninguém respondeu. Ouvi alguém dizer que a ambulância já estava chegando. Pediram para eu deitar numa maca e retiraram os fios do meu peito. Será que Deus está me poupando, pensei? Li em alguns livros que quando você está prestes a morrer, Deus te pouca do sofrimento e na verdade você não sente nada, pois instantes de morrer você sai do corpo e se transforma em espírito, sendo que em alguns casos você pode até assistir sua própria morte. Comecei a rezar baixinho, pois sei que Deus pode me ouvir, pode ler meu pensamento. Pensei nos meus filhos, pensei nos meus irmãos, pensei em escrever em um papel as senhas e os códigos para que alguém do escritório pudesse dar sequencia ao meu trabalho. Pensei e via a imagem de Nossa Senhora Aparecida. A ambulância chegou e eu fui colocado preso numa maca.

- Cadê o desfibrilador? 
Perguntei ao motorista da ambulância, pois o médico havia sumido e os enfermeiros olhavam para mim como se eu fosse um E.T.

- Vamos seguir para o Hospital Paulistano. Disse o motorista, que também estava vestido de branco, como nos filmes espíritas que eu já havia assistido.

Ouvi o motorista dizendo e um dos enfermeiros mencionando mais uma vez a palavra “Morte Súbita”.
- Você tem o telefone de algum parente seu? Perguntou o médico, que apareceu na ambulância e não estava mais chorando.

Eu dei o telefone do meu irmão e pedi para dar um recado para os meus filhos que tinha comida na geladeira e que eu tinha deixado na primeira gaveta do meu criado mudo, algum dinheiro para eles comprarem lanches na escola e pagar a perua escolar do Tio Barriga.

- Mas doutor, o que está acontecendo comigo?
  Eu tive um infarto, meu coração parou? Eu vou morrer?

O médico não respondeu nenhuma das minhas perguntas, só disse para o motorista vestido de branco pisar fundo e rápido para o Hospital Paulistano. E quando eu ouvi pela terceira vez a palavra “Morte Súbita”, uma lágrima começou a escorrer do meu olho esquerdo. Eu olhava pela janela da ambulância e via todo mundo saindo da frente para eu passar. Eu pensei em fechar os olhos e esperar Deus vir me buscar. Deus estava demorando, mas não fazia mal, pois eu não estava sentindo dor nenhuma, só estava preocupado com a bagunça que meus filhos poderiam fazer na cozinha, pois eles não costumavam lavar as louças depois do jantar. Pensei numa rosa sobre à mesa, na sala de estar e uma mulher de cabelos longos batendo a porta violentamente, até sumir numa nuvem branca. Eu tentei chorar pra valer, mas as minhas lágrimas se secaram, colocava a minha mão sobre o meu peito, mas não sentia a batida do meu coração. Me vi caminhando num jardim de terras negras, rastros sem saída, de plantas murchas e as rosas não tinham cheiro. Talvez o médico tivesse aplicado alguma injeção e eu estava delirando, mas eu estava ansioso para que Deus pudesse vir me buscar logo, pois a ambulância estava correndo depressa demais e poderia ocorrer um acidente. Mas, as lágrimas chegaram. E chegaram feitas águas escuras, escusas, como rios em correntezas.

- Eu vi a minha mãe.

Era uma senhora de cabelos brancos, estatura baixa, carinhosa no jeito de tocar a minha mão e colar no meu peito os eletrodos para que fosse feito o eletrocardiograma, e imediatamente eu fui para a unidade coronariana do Hospital Paulistano.
Lembro-me de ter ouvido mais uma vez a palavra “Morte Súbita”, ouvi também a palavra “Arritmia Cardíaca” e depois não me lembrei de mais nada.
TRECHO DO LIVRO

21 junho 2014

33 VEZES EM APUROS! VOLUME II

BANHEIRO INTERDITADO>>> Quando o Carlão descia na hora do almoço, o chapeiro da Lanchonete Puppi´s tinha que se preparar, pois pelo menos três lanches X Tudo ele iria comer. Fora a batata frita sempre regada com molho de tomate e mostarda. Nós cansávamos de lhe dizer para melhor a alimentação, mudar o hábito e comer uma comida mais saudável, mas não tinha jeito, nosso amigo Carlão era vidrado num X Tudo.

Por comer demais, talvez, ele sempre chegava atrasado do trabalho, dormia mal, tinha excesso de peso e por isso transpirava bastante, tinha falta de ar, e quando o elevador do prédio estava quebrado ele demorava uma eternidade para chegar ao sétimo andar, onde ficava nosso escritório. Para completar esse cardápio altamente rico em calorias, às sextas feiras, no happy hour, Carlão se enchia de batatas fritas, porções de calabresa, tudo regado a muita cerveja.
Nos dias em que tínhamos de fazer o fechamento mensal na empresa era o maior sufoco. Carlão se esquecia do horário da volta do almoço, talvez pelo sono que ele tinha depois de acabar com o estoque de X Tudo da Lanchonete Puppi´s e às vezes tínhamos de mandar a Glória ir busca-lo. Para piorar a situação, logo que ele voltava do almoço, passava alguns minutos trancado no banheiro escovando os dentes e fazendo um download interminável. A Tia Márcia da limpeza tinha que espera-lo terminar de fazer o download para poder limpar o banheiro, senão teria o trabalho dobrado. Por mais que falávamos, ele não mudava seu comportamento. Não ia ao médico, não jogava futebol conosco e vivia num mundo sedentário onde a coisa mais importante era comer X Tudo.
Numa tarde de segunda feira, depois de ter detonado três X Tudo e ter bebido uma Coca de dois litros no Puppi´s, Carlão entrou no banheiro e de dentro de alguma casinha acabou dormindo. Com a demora, A Tia Márcia foi até nosso departamento nós avisar para ir tira-lo de lá, pois precisava limpar o banheiro. Fomos eu e o Mariano, mas o Carlão não atendia nosso chamado, até darmos um pontapé na porta e vê-lo acordar assustado. Para tira-lo do assento do vaso sanitário, tivemos que, eu e o Mariano puxarmos-lo pelas mãos. Pior que tudo isso foi o cheiro do coco. A Tia Márcia até foi obrigada a fechar a porta e lançar no ar um spray de Bom Ar de Lavanda.

- Porra Carlão, que palhaçada é essa?

O Mariano ficou puto da vida e eu fiquei com pena do Carlão, diante daquela situação constrangedora.

- Carlão, assim não vai dar mora! Você precisa criar vergonha na cara bicho!

O Mariano estava puto da vida, com razão, pois não foi a primeira vez que tivemos que livrar o Carlão de uma situação constrangedora. Ele era muito querido pelos diretores da empresa, mas tudo tinha um limite e o limite das pessoas com o Carlão estava se esgotando. E assim que conseguiu se restabelecer dignamente, o levamos de volta para o departamento, sem fazer que tudo aquilo causasse algum alarde na empresa.
Voltamos para o departamento depois de tomarmos todos junto um café bem forte e parecia que a rotina iria voltar ao normal, até eu ver a Tia Márcia em pé, de frente à minha mesa, fazendo um sinal com os olhos querendo dizer que gostaria de conversar comigo em particular.

- Augusto, pode vir comigo até o banheiro?

No trajeto até o banheiro, não imaginei o que poderia ser, mas fiquei ainda mais preocupado quando percebi que a Rosa, a fofoqueira da empresa, tinha filmado toda a situação e sorrateiramente veio atrás da gente.

- Veja só como está a casinha do meio. Disse a Tia Márcia, quando entramos no banheiro dos homens.

Podíamos dizer naquele momento que o download que o Carlão fez na casinha do meio não havia sido concluído. O troço não descia, mesmo depois de darmos tantas descargas naquela privada fedorenta. A Tia Márcia ainda insistiu tentando dissolver o coco do Carlão com alguns produtos químicos, mas não obtivemos sucesso. O jeito foi lançar alguns sprays de Bom Ar, até acharmos uma resolução para aquele problema nojento.

- Porra Carlão, que merda! Disse o Mariano puto da vida!

Vamos chamar os bombeiros! Disse a fofoqueira da Rosa.

Até que não foi uma má ideia, mas a minha maior preocupação naquele momento foi tentar de alguma maneira poupar o meu amigo Carlão de todo aquele constrangimento, mas não consegui, pois a fofoqueira da Rosa espalhou a notícia para a empresa inteira e colocou um aviso na porta do banheiro dos homens em que se lia a seguinte inscrição: BANHEIRO INTERDITADO ! >>> TRECHO DO LIVRO

OS OLHOS DO CENTURIÃO



Sir Alfred Joseph Hitchcock, KBE, foi um cineasta inglês, considerado o "Mestre dos filmes de suspense", um dos mais conhecidos e populares realizadores de todos os tempos. Mas o que Alfred Hitchcock tem a ver com o enredo deste livro? Ora, esse cineasta ficou famoso dentre tantas coisas, por através de sua câmera mágica mostrar as cenas de um ângulo diferente, surpreendente, dando outra interpretação para as cenas carregadas de suspense e enriquecidas pelas trilhas famosas. Então, imaginamo-nos à época de Jesus Cristo: Imagine se pudéssemos estar presente na “cena” em que Judas o beija, indicando-o como a quem os que “não sabem o que fazem” perseguem? Imagine também o corredor do calvário, seus detalhes... Será que se estivéssemos por lá a história seria a mesma? Na certa não impediríamos o curso da história, mas existiriam outros detalhes que pudessem estar nos escritos, até mesmo a nossa própria morte em “defesa” de Deus. Neste Livro, Os olhos do Centurião serão para nós a Câmera de Hitchcock, para descrever em outros ângulos as principais cenas da vida do filho do homem, para que possamos imaginar, não com a riqueza de violência e sangue de Mel Gibson, mas com a clemência do Centurião ao constatar depois da crucificação que aquele homem na cruz era mesmo o filho de Deus.
Antonio Auggusto João