...O
que me restou foi um casebre abandonado e fechado, uma cabana velha, um jardim
como nunca visto e uma paisagem magnífica em que eu podia ver as ondas se
formarem, avançarem em direção aos rochedos e se quebrarem, como num
sincronismo, como se aquilo determinasse o tempo, um ciclo de vida, uma rotina,
como se aquilo fosse o relógio da minha subsistência. Alguns dias depois resolveria
visitar o casebre. Queria alguma pista de tudo aquilo e de Billy,
principalmente. Estava toda fechada e por algumas frestas podia ver que estava
tudo bem arrumado, como se ainda tivesse alguém morando. Tentei abrir a janela,
mas existia um trinco difícil de ser aberto. Quando apontei na porta da frente,
notei que estava semi-aberta e com a força do vento, acabou se abrindo
justamente quando eu acabara de me aproximar. Assim, entrei no casebre. Logo na
entrada senti uma sensação agradável, certo conformo, como se aquele lugar
fosse sagrado. Andei vagarosamente pelo casebre reparando cada detalhe. Os
móveis estavam todos alinhados e quando cheguei ao quarto tive uma sensação de
arrepio ao ver a cama onde a velha senhora esteve agonizando. A cama estava
devidamente arrumada, com roupas novas e perfumadas. Os raios de sol clareavam
o quarto de tal maneira que refletiam cores ao ambiente. O único detalhe que me
perturbou foi o porta retrato que vi caído no chão. Talvez pelo vento, talvez
no calor daquela reunião misteriosa que havia acontecido antes do sumiço do
Billy. Ao recolher o porta retrato do chão, notei que, nele, havia o retrato de
uma mulher serena. De olhos dominantes, cabelos avermelhados, estampando um
sorriso capaz de hipnotizar quem o visse. Jurei que já havia visto aquele
sorriso, aquele ar sereno, mas não conseguia recordar. Sente-me na beirada da
cama e fixei meu olhar no porta retrato retorcido e dobrado pela queda. Embaixo
da foto um nome que com certeza seria daquela mulher que refletia seus olhos
aos meus e mesmo que em lado oposto do meu alcance, remetia a mim toda a sua
observância. Senti uma ansiedade imensa para saber o nome daquela mulher e tive
que desarmar a foto do porta retrato para que pudesse vê-lo. Assim que
consegui, fiquei por alguns minutos examinando cada letra daquele nome que
magicamente me fazia remeter a uma sensação de paz, alegria, felicidade,
contentamento e harmonia: Laura Mars. Esse era o nome que autografava o porta
retratos e com certeza era o nome daquela mulher hipnotizante, diferentemente
daquela velha senhora que havia definhado naquela situação até certo ponto
sinistra em que resultou no desaparecimento do Billy. No dia seguinte, ainda
intrigante com o nome daquela mulher, resolvi voltar ao casebre, pois lá eu me
senti bem e talvez recebendo um pouco mais de serenidade pudesse destrinchar o
mistério daquela mulher. Assustadoramente, mirei-me ao jardim e já não existiam
mais flores, os pássaros não faziam mais voos rasantes e por incrível que
poderia parecer não existia mais o casebre, não existia mais nada. Deite-me na
areia ceguei-me ao olhar para o sol escaldante e senti minha mente perturbada,
confusa. Foi então que resolvi nadar até os rochedos na esperança maluca de
poder encontrar Billy, de poder ter uma explicação para tudo aquilo que estava
acontecendo comigo. Um imenso mar azul à minha frente foi o que me restou.
TRECHO DO LIVRO
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