A
casa estava toda revirada e bagunçada. Robert sempre foi atrapalhado e o
segundo filho viria no momento de vida mais feliz do casal. Daquela vez não foi
alarme falso. Sarah sabia que o segundo filho estava pedindo passagem para
nascer:
- Querido!
Não precisa colocar tantas coisas na mala. Coloque somente o necessário para o
primeiro dia.
Robert e Sarah viviam numa pequena e pacata cidade
no interior dos EUA. Robert sempre foi lavrador e cultivava frutas, verduras,
raízes e madeira, que era o meio de sobrevivência da família. Sarah também o
ajudava na terra. Se conheceram ainda adolescentes e se casaram no mesmo
instante em que nasceu o primeiro filho, Nicholas. Robert saiu todo atrapalhado
rumo á maternidade. Nicholas ficaria hospedado na casa de um vizinho enquanto
Robert passaria a maior parte do tempo na maternidade com sua esposa Sarah. O
Dr. Paul estava no hospital aguardando Sarah chegar para fazer o parto. Sarah
iria dar à luz uma menina que seria batizada com o nome de Annie.
Logo que chegou, Sarah foi conduzida para uma sala
de preparos antes do parto. Enquanto isso, Robert ficou na recepção tomando um
café atrás do outro. Eram vinte e três horas quando começou o procedimento de
parto. Tudo tinha sido feito como o Dr. Paul havia recomendado e toda equipe
médica iniciou os trabalhos para o parto. Sarah estava tranquila, sabia que
Nicholas seria bem cuidado pelos amigos vizinhos e quanto a Robert, sabia que
tomaria toda a garrafa de café da recepção, por tamanha ansiedade.
Robert andava pra lá e pra cá, ansioso por notícias
de Sarah, porém, aos poucos, foi sossegando e até deu uma cochilada na poltrona
da recepção:
- Enfermeira!
Chamando enfermeira chefe! Setor C sala 217.
O auto falante da emergência solicitava a presença
da enfermeira para auxílio no parto de Sarah. Alguma coisa estava transcorrendo
em desagrado e Robert ficou meio perdido, sem ter noticias de Sarah.
- Estamos
perdendo o pulso! A pressão está muito alta e os batimentos cardíacos estão
lentos!
Esse foi o diagnóstico que a equipe de médicos
detectou no decorrer do procedimento. Houve uma complicação no procedimento de
parto e a equipe médica teria que tomar uma decisão de tamanha importância e
responsabilidade e não tinham muito tempo para decidir.
- Chamem o
marido imediatamente. Ordenou o médico
Quando Robert tomou pé da situação, ele sorriu. Em
situações de tremenda pressão, sustos, tragédias... Pessoas reagem de várias
maneiras e Robert sorriu. Mas por dentro, estava desesperado. Não se soube de
foi erro médico ou complicações generalizadas do parto, mas os médicos pediram
para Robert optar em ficar com o bebê ou com Sarah e ele tinha que decidir
rápido senão perderia ambos. Robert continuou sorrindo, dando murros em todas
as paredes que via pela frente.
- Doutor,
precisamos ressuscita-la. Disse outro médico.
A situação estava terrível e a equipe médica
acelerou os procedimentos quando aos gritos Robert entrou na sala de
emergência:
- Salvem o
bebê! Salvem o bebê!
Annie nasceu com sérias complicações e ficou na
incubadora e depois sobre cuidados médicos por mais de sessenta dias. Robert
ficou por um bom tempo perdido. Não tinha forças para cuidar da terra de onde
tirava o sustento da família e ainda com a responsabilidade de duas crianças
para cuidar. O tempo passou e com muito custo Robert foi se reerguendo. Annie
completou cinco anos e Nicholas, sete. O grande problema foi que Robert
adquiriu o vício do álcool. Nos momentos de profunda tristeza e agonia, Robert
fugia para os fundões de terra para chorar escondido das crianças e levava
consigo a bebida alcoólica como companhia. Contudo, a vida de Robert, Nicholas
e Annie mudaria radicalmente a partir daquele dia. Robert sumiu, desapareceu. Saberiam
mais tarde que desmaiou de tanta bebida e desilusão. Enquanto Robert afogava
suas mágoas na bebida, Nicholas e Annie se viravam em casa. Estavam com muitos
problemas na escola e viraram crianças rebeldes. Naquele dia as crianças após
prepararem o jantar, deixaram algumas lascas de carvão acesas e uma delas caiu
no chão de madeira e acabou provocando um incêndio. Antes disso, as crianças foram
dormir e Robert ficou perdido na bebida. Os vizinhos socorreram, chamaram a
polícia, conseguiram dominar as chamas, mas a cozinha da casa ficou totalmente
destruída.
Com as crianças não aconteceu nada, mas
a situação de Robert ficou muito complicada. Robert foi encontrado somente na
manhã seguinte pela polícia, ainda embriagado e no meio de uma plantação de
eucaliptos. Assim, quando soube do ocorrido ficou desesperado e somente se
tranquilizou quando encontrou e abraçou Nicholas e Annie.
Enfim, por uma decisão do juiz, Robert
se livrou da prisão, mas o juiz determinou a perda da guarda das crianças, o
que para Robert significaria o fim. As crianças já eram rebeldes e revoltadas
pela perda da mãe e pelo estado do pai, não se davam bem com ninguém,
principalmente na escola, mas, de todo modo, amavam o pai, amavam Robert sob
todas as formas.
Nicholas
foi encaminhado para o orfanato ao leste do estado, numa distância de
quatrocentos quilômetros de seu pai e Annie foi para o oeste, a duzentos
quilômetros de distância. No início Robert foi impedido de visitar os filhos,
daí se perdeu ainda mais na bebida, no álcool. Na procura de ajuda conheceu
Marie. Marie foi a assistente social que ajudou Robert no processo de
recuperação da guarda dos filhos. Seria uma batalha árdua. As leis no estado onde
Robert e as crianças viviam eram muito rigorosas. Foi daí que Marie ajudou
Robert e assim contrataram um advogado para iniciarem o processo de recuperação
da guarda. Marie também ajudou Robert a se livrar do álcool.
- Foi
um anjo que apareceu na minha vida.
Foi sempre assim que Robert terminava
seus depoimentos nas sessões do Grupo dos Alcoólatras Anônimos, se referindo a
Marie.
Robert arrendou seu rancho, pois não
tinha forças para o trabalho pesado. Ficou com sessenta por cento como
administrador e arrendou quarenta por cento para Richard, um amigo de infância
que reapareceu após saber da triste realidade da vida de Robert. Assim, Robert,
Marie e o Dr. Simpson poderiam trabalhar no processo da recuperação da guarda
das crianças.
Quando uma carta chegou pelos correios
na casa de Robert, não poderia proporcionar alegria maior. O Juiz havia
concedido a primeira visita de Robert aos filhos, depois de quase um ano, desde
que foram para o orfanato. Foi a primeira vitória do Dr. Simpson no processo,
com a ajuda da Assistente Social Marie.
A visita aconteceria num domingo, três
dias depois do recebimento da carta e Robert contava as horas e os minutos para
chegar o momento de reencontrar os filhos.
- Como
será que eles vão me receber? Questionava Robert
- Tenha calma, tudo vai dar certo! Incentivava Marie.
O dia da visita chegou e Robert primeiro
foi visitar Nicholas. Marie o acompanhou. Quando chegaram tiveram uma sensação
horrível, pois o orfanato tinha aspecto de prisão, um isolamento. Robert
sentou-se numa sala enquanto foram buscar Nicholas. Nicholas demorou a chegar.
Parecia que estavam convencendo-o a ver o próprio pai. Pela porta aberta, que
dava de frente para um corredor, Robert viu Nicholas se aproximar. Nicholas chegou
caminhando com dificuldade e devagar. Tinha dificuldades em andar e mancava da
perna direita. Robert não se conteve e saiu feito louco para abraçar o filho.
- Nike,
meu filho!
Nicholas
recebeu o pai friamente. Enquanto o pai chorava de saudade, Nicholas apenas o
olhava com expressão fechada, de revolta, tristeza e solidão. Enquanto Robert
ficou o tempo todo abraçado ao filho, Marie andou pelo orfanato e conversou
muito com a diretora.
- Pai,
eu quero ir com você. Não quero mais
apanhar.
Nicholas estava com quase dez anos e por se
rebelar, sofria muitos castigos no orfanato. Robert identificou marcas e
cicatrizes no corpo do filho e numa atitude intempestiva, tentou
"raptar" o próprio filho daquele lugar sombrio, obscuro, como se
fosse uma prisão de segurança máxima.
E na despedida, Nicholas chorou. Não
queria largar do braço do pai que também desmontou em emoção.
- Meu
filho, tenho que ir embora, mas não vou demorar em vir te buscar.
Robert
foi embora arrasado. Pensou em cometer uma loucura tirando o filho do orfanato
à força, mas só agravaria a situação. Ainda bem que Marie estava com ele.
Enquanto Robert ficou com a emoção e tristeza aflorada, Marie, ponderada,
colheu informações importantes que seriam fundamentais para o processo de
recuperação da guarda dos filhos de Robert, e que o Dr. Simpson usaria da
melhor forma possível.
Marie
tomou a direção do carro e iniciaram a viagem para o orfanato onde estava
Annie. Não seria possível visita-la no mesmo dia e assim resolveram pernoitar
num hotel de beira de estrada.
- Acalme-se
Robert. Tenho informações importantes que vão ajudar o Dr. Simpson a resolver
de uma vez essa situação. Disse Marie a Robert, que logo pegou no sono.
No dia seguinte Robert e Marie seguiram
rumo à visita a Annie. Robert estava muito preocupado, pensando receber Annie
num mesmo cenário sombrio ao de Nicholas. Quando chegaram, diferentemente do
que haviam visto no orfanato onde estava Nicholas, viram um cenário menos
carregado. E então foram surpreendidos com Annie que veio correndo ao encontro
do pai:
- Papai!
Papai! Você veio me buscar?
Robert
não respondeu... abraçou e beijou Annie, enquanto Marie foi conhecer melhor o
orfanato e conversar com o diretor.
- Papai,
quem é ela? Ela é sua namorada? Ela vai ser minha mãe?
Robert disse a Annie que Marie era uma
assistente social do estado onde vivia e que junto com o advogado Dr. Simpson,
estavam ajudando- o retira-lá daquele lugar e voltar para casa.
- Cadê meu irmão?
Robert
desabou com os questionamentos de Annie e foi Marie que consolou a menina que
havia recentemente completado oito anos de idade.
- Seu
pai vai embora agora, mas logo voltará para busca-la.
Annie
chorou muito na despedida e aos gritos Robert disse que em breve viria busca
-la e a levaria de volta para casa. Durante a viagem de volta, Marie ligou para
o Dr. Simpson e lhe adiantou o que havia se passado nas visitas e marcaram uma
reunião para assim que chegassem de viagem.
No dia seguinte Robert e Marie se
dirigiram ao escritório do Dr. Simpson e Marie fez uma explanação de como
estava a situação das crianças no orfanato e quais as medidas que deveriam
tomar a partir de então:
- A
situação do Nicholas é desesperadora. O orfanato não obedece as regras
determinadas pelo governo. Apurei que abrigam menores infratores no mesmo
ambiente dos considerados órfãos, o que é ilegal perante as leis do nosso
estado e ainda agridem os meninos rebeldes. Nicholas se envolveu em várias
brigas que causou um ferimento na perna direita que o faz mancar. Mas as brigas
não foram porque Nicholas tenha tido comportamentos em desacordo e sim porque
teve que se defender dos delinquentes. A diretora do orfanato me confidenciou
esses detalhes e está disposta a depor a nosso favor se tiver uma proteção da
justiça ou uma delação premiada.
- A situação de Annie é mais tranquila.
O orfanato onde Annie se encontra obedece as regras governamentais. As meninas
até estudam, são assistidas por psicólogos e fazem atividades físicas e
sociais. A diretora prometeu que pode nos ajudar na recuperação da guarda com
um relatório de bons comportamentos de Annie.
Com as informações trazidas por Marie, o Dr.
Simpson iniciou o processo para protocolar junto ao juízo da comarca para
solicitar a recuperação da guarda das crianças.
Na primeira decisão o juiz deu a
sentença como favorável a Robert, mas fez três exigências que deveriam ser
comprovadas em noventa dias. A primeira exigência foi que Robert tinha que provar
que estava totalmente curado do vício do álcool. A segunda, que tivesse um
trabalho fixo que pudesse oferecer condições de sustentar seus filhos. A
terceira, a que mais constrangeu Robert, ele deveria Sr um homem casado em até
noventa dias antes da recuperação da aguarda das crianças.
A primeira exigência do juiz foi totalmente
comprovada através dos relatórios dos Alcoólatras Anônimos e os exames médicos
recentes que Robert juntou ao processo, além dos depoimentos dos vizinhos.
A segunda exigência também foi
comprovada. Robert tinha arrendado o rancho em quarenta por cento ao amigo
Richard. Com isso o rancho prosperou novamente e as terras voltaram a ser
produtivas, garantindo o sustento de todos. Robert havia se esquecido da
terceira exigência quando Marie o convidou para um jantar em sua casa. Há muito
tempo Marie gostava de Robert. Conheceu sua história, a forma em que perdeu sua
esposa, conheceu a agonia de seus filhos e a luta de um pai para recuperar sua
dignidade. Com todas essas tribulações, Robert não conseguiu enxergar a mulher
maravilhosa que estava em sua volta, em sua companhia, e que foi fundamental
para que conseguisse recuperar a guarda dos filhos, prestes a acontecer.
Aquela
noite foi maravilhosa para Robert e Marie. Parecia até que ambos estavam
aproveitando aquela chance, aquela conveniência para poder juntar uma prova no
processo para ter os filhos de Robert de volta. Marie prometeu a Robert dois compromissos:
Primeiro ajudá-lo definitivamente a recuperar seus filhos e segundo, provar seu
amor a Robert.
E assim foi feito. Robert e Marie se
casaram e após cem dias Nicholas e Annie estavam em casa novamente. Robert se
sentia completo novamente: Tinha novamente uma família.
Annie e Marie desde o início se deram
muito bem. Nicholas a olhava com desconfiança. Não a tratava mal, porém, não
aceitava o carinho da mesma forma que Annie aceitava. Nicholas gostava de ficar
na terra, junto com Richard e Robert. Se sentia bem trabalhando. No início fez
um trabalho de fisioterapia com o médico da cidade e não mancava mais como na
época do orfanato. Quando todos estavam sentados à mesa para fazer as
refeições, Nicholas ignorava Marie:
- Esse
lugar é da minha mãe. Ela não é a minha mãe.
Os negócios prosperaram e Robert estava
numa situação financeira muito privilegiada, tanto que Annie e Nicholas foram
estudar numa excelente escola numa cidade vizinha. Somente aos finais de semana
e nas férias os filhos estavam com Robert que não ficava triste com aquela
situação:
- Estou
investindo no futuro dos meus filhos.
Quando
as férias de verão chegaram no ano de mil novecentos e sessenta e sete, Nicolas
estava com treze anos e Annie onze. A família estava muito feliz. Robert estava
ensinando Nicholas andar a cavalo e Marie ensinando Annie a fazer bolos e
tortas. Nicholas era vidrado em colher frutos e numa tarde estava em cima de
uma árvore quando ocorreu um acidente:
Nicholas se desequilibrou e caiu de cima
da árvore. Antes de chegar ao solo tentou se proteger segurando em um galho,
mas o galho quebrou-se e por infelicidade, ao cair, perfurou seu abdômen. Nicholas
sangrou muito e foi imediatamente levado ao hospital. Precisou fazer uma
cirurgia de emergência e precisou de doadores de sangue do tipo B positivo. Richard
se dispôs a doar, mas seu sangue não foi compatível. Robert e Annie também.
Robert comentou, decepcionado que Sarah era quem tinha o tipo de sangue
adequado.
- Eu
vou doar. Disse Marie.
Marie
tinha o sangue compatível com o de Nicholas, além de alguns vizinhos de Robert.
O volume de sangue necessário foi doado e a operação foi um sucesso. Depois de
cinco dias, Nicholas estava em casa novamente em repouso pela cirurgia.
E
para comemorar, Annie fez um bolo de morango que Nicholas adorava:
- Para
quem será o primeiro pedaço!
Nicholas
cortou, colocou o pedaço de bolo num prato e o direcionou a Marie:
- O
primeiro pedaço é pra você! Obrigado, mãe!
Com
o sucesso produtivo do rancho, Robert e o amigo Richard compraram uma fazenda bem
maior e expandiram a produção justamente quando Nicholas se formou em
engenheiro agrônomo. Annie estava no último ano da faculdade de gastronomia
quando Marie deu à luz aos gêmeos Sarah e Robert Junior. E assim, Robert, Marie
e todos viveram felizes para sempre!
SINOPSE DO LIVRO
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