Os olhos do centurião ficaram ainda mais pávidos e perturbados
quando Jesus mal se levanta e é amparado pela sua mãe:
Meu filho.
Com imenso amor Maria olha para Jesus, e Jesus olha para a Sua
Mãe; os Seus olhares encontram-se, e cada coração verte no outro a Sua própria
dor. A alma de Maria fica mergulhada em amargura, na amargura de Jesus Cristo.
- Ó vós, que passais pelo
caminho: olhai e vede se há dor semelhante à minha dor!
Mas ninguém repara e ninguém presta atenção; apenas Jesus.
Cumpriu-se a profecia de Simeão: uma espada trespassará a tua alma (Lc II, 35).
Na escura solidão da Paixão, Nossa Senhora oferece ao seu Filho um bálsamo de
ternura, de união, de fidelidade; um sim à Vontade divina. Pela mão de Maria,
talvez aquele centurião também quisesse consolar Jesus. Tudo no condicional,
porque o escudo e a lança não eram símbolos de compaixão, mas sim, o que
verdadeiramente aquele oficial poderia estar sentindo em seu coração:
Que bom seria se o amor pudesse ser mais forte ainda do que o é, e
pudesse se manifestar, mesmo encaixotado, congelado e petrificado, como no
coração do centurião. Só assim saborearíamos a doçura da Cruz de Cristo e
abraçá-la-íamos com a força do Amor, levando-a em triunfo por todos os caminhos
da terra.
Que mãe, porém amou a seu filho, tanto quanto Maria amou a Jesus?
Ele que Lhe era Filho e Deus, ao mesmo tempo. Ao ver chegar o momento da Paixão
e ao notar que faltava pouco tempo para perder o Filho, inundados de lágrimas
permaneciam os olhos de Maria, um suor frio; causado pelo terror que lhe
assaltava a proximidade da morte de Seu Filho, lhe cobria todo o corpo. Se
juntássemos todas as dores do mundo, ainda não se igualariam às penas da Virgem
Maria. Quanto maior era o sofrimento D’Ela, maior também a ternura com que O
amava. Especialmente ao encontrá-Lo com a Cruz às costas, rumo ao Calvário.
E tão logo João diz à Mãe dolorosa que Seu Filho fora condenado à
morte, e que Ele mesmo carregava a Cruz aos ombros para o lugar chamado
Calvário (conforme João 19,17). Partiu Maria imediatamente ao encontro D’Ele.
A Mãe aflita tomou “um atalho para ficar depois esperando numa
esquina pelo Filho atribulado”. E estando ali à espera D’Ele, “foi reconhecida
pelos judeus e deles teve de ouvir injúrias contra seu amantíssimo Jesus”.
Talvez tivesse também de escutar escárnios contra Si mesma. Mas, martírio sofreu e que espada de dor transpassou então a alma
dessa Mãe dolorosa, ao ver e contemplar os funestos instrumentos de martírio,
da morte de Seu Filho, que passavam em lúgubre desfile diante D’Ela! De
repente, fere seus ouvidos um estridente som de trombeta; e leram a sentença da
morte lavrada contra Jesus. Já desfilaram o arauto, os instrumentos do martírio
e os oficiais de justiça. E, agora, Maria ergue os olhos e vê...
Ó Deus, um homem, na flor dos anos,
todo coberto de sangue e de chagas, da cabeça aos pés, coroado de espinhos,
carregando às costas um pesado madeiro, curvado ao peso ignominioso do
instrumento de suplício.
Maria, Sua Mãe, olha-O e quase não O reconhece mais... Ele é uma
só chaga, as feridas, as contusões e o sangue enegrecido, desfiguram-No, só se
vê sangue. E, ainda, é ligado com fortes e dilacerantes cordas, cercado de
guardas, que com suas mãos criminosas, O arrastava, pelas ruas de Jerusalém,
enquanto um único oficial apenas olhava com olhos hipnotizados de medo ou
arrependimento – Sugeria o Sr. Herbert em sua descritiva narrativa.
Podíamos perguntar: quem é este Homem que mais parece com um verme
pisado?
Ainda que fosse um criminoso ou réu de nefandos crimes merecia a
compaixão dos corações humanos, ainda mais sendo Homem-Deus! Sim, o Deus que se
fez Homem por amor a nós e que agora se encontra neste estado.
Que espada de dor transpassou mais ainda a alma da Mãe, ao ver a
que estado lastimoso Jesus fora reduzido?
De
um lado Maria desejava contemplá-Lo, de outro não tinha coragem de olhar para o
Seu rosto, tão digno de comiseração. Maria não morreu, nem desfaleceu de dor,
ali neste momento, por altos e sábios juízos da Providência de Deus. Mas Ela
padeceu tormentos e Sua dor foi sem limites, que já seria suficiente para lhe
dar mil mortes. A Mãe queria abraçar o Filho, mas os algozes injuriosamente A
repeliam, e empurravam para diante o acabrunhado Salvador.TRECHO DO LIVRO
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