Para viver precisamos de alimento. Para que nosso corpo viva
70, 80 anos – quando muito – alimentamo-nos, diariamente, várias vezes. E para
a nossa alma viver, não 70 ou 80 anos, mas eternamente, nós a alimentamos? Eis
um assunto a ser pensado. Há diversos alimentos da alma: a oração, a meditação,
a boa leitura, o estudo, a boa conversa, etc. Porém, de todos, o melhor é, sem
dúvida, a Comunhão. Quando nos alimentamos com leite, carne, ovos, legumes,
estes alimentos transformam-se em proteínas, vitaminas, sais minerais, etc. E, assimilados, passam a fazer parte
do corpo – de nosso carne ou nosso sangue. Nós lhes
somos superiores e os absorvemos. Quando nos alimentamos da Hóstia consagrada,
passa-se o contrário. Este alimento (espiritual) nos é superior e nos absorve.
Daí a frase de Santo Agostinho: "Não Vos humanizais em mim; eu é
que me divinizo em Vós". Na Hóstia
consagrada, a presença de Cristo mantém-se enquanto duram as espécies (de pão);
Jesus fica presente na Hóstia de pão, que conserva sua matéria própria, com
suas características de cor, cheiro, sabor, etc. O que muda é a substância –
deixando de ser pão, para tornar-se Cristo – Por isso, este milagre é chamado
de transubstanciação. Na Última Ceia, no pão consagrado, os apóstolos não viram a
aparência de carne. Também, no vinho, nenhum deles percebeu aparência de
sangue. No entanto, eles acreditaram. "O interior de um ovo transforma-se
num pássaro vivo – e a casca permanece a mesma" (S. Tomás de Aquino). Jesus não
instituiu só para os apóstolos este sacrifício (incruento), em que os convivas
se alimentam da Vítima. "Fazei isto em minha memória" – disse Ele,
pensando em nós. E
"isto em Sua memória", é a missa – em que nós somos os participantes. Na mesa (o altar), no ofertório, o
sacerdote, representando Cristo, oferece pão e vinho. Quando, na
consagração, ele repete as mesmas palavras de Jesus, o pão e o vinho tornam-se
o Corpo e o Sangue do Senhor. Na Comunhão, nós nos alimentamos de Deus. Essas
são as três partes essenciais da missa – repetição do que se passou na última
Ceia e no Calvário. No Calvário,
Jesus ofereceu-se de maneira sangrenta – o Cordeiro foi imolado. Nos altares,
como na Ceia, o mesmo Cordeiro é oferecido ao Pai e entrega-se aos homens. No
Calvário, o sacrifício foi cruento. Na Ceia e na missa é incruento. Mas o
sacrifício é o mesmo. Porque mesmo é o Sacerdote e mesma é a Vítima. E mesma é
a doação. Mesmo é o amor. "A missa procede do Calvário, de onde lhe vem
a energia espiritual e salvífica; e procede da Ceia, de onde vem do modo
incruento e tranquilo de realizar o mesmo sacrifício" Um é, pois, o Sacrifício – e
perfeito. Por causa da Vítima e do Pontífice. E por causa da oblação – ato de
Sua Vontade: "Porque Ele mesmo quis", como disse Isaías. E por ser
Ele o Único que podia dispor de sua vida (Jo 10, 18). Por ter o valor da Ceia e da Cruz, a Missa atinge plenamente – e realmente – o
que os antigos buscavam em seus sacrifícios. A Missa é o ato de culto em que,
da maneira mais perfeita, se adora, louva e agradece a Deus, pedindo-lhe perdão
e ajuda. É o próprio Cristo, o Filho de Deus, Sacerdote e Vítima, quem, por nós, adora,
louva e agradece ao Pai; quem, por nós, ao Pai, suplica o perdão para os nossos
pecados e o auxílio para a nossa miséria. Por
isso, o sacrifício da missa (também chamado de Eucaristia, isto é, ação de
graças) é o centro de toda a Liturgia Católica. É a oração mais perfeita, o ato
mais sagrado que existe entre os homens. A missa não é simplesmente "uma
assembléia de fiéis", em que todos se unem, dando as mãos. É muito mais do
que isso. E a união deve ser muito mais profunda. Tendo o mesmo valor do
sacrifício do Calvário, nela se encontra a mesma fonte de graças, de vida e
santidade. Devemos participar. Comungando. Jesus – por nós – Sacerdote e
Vítima, não nos pede, simplesmente, "a assiduidade nas cerimônias
indolores. Ele nos pede a nossa
dor e nos diz que nossa pobre dor habitualmente tecida somente de miséria, de
medo, de tristezas e, à vezes, ate de revolta, sim, Ele nos diz que nossa dor
pode e deve tornar-se fundida em Sua dor e assim poderemos, de algum modo,
diuturnamente hiperbólico, completar no Corpo Místico o que faltou na
Paixão". Ah se soubéssemos ser pequenas hóstias!
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