RAIN
Da janela do meu quarto conseguia avistar a
rua e a varanda da casa de Olivia. Sempre me arrumava com antecedência, vestia
o uniforme para ir à escola e ficava esperando o momento certo de sair de casa
para poder dar de cara com Olivia. Olivia Rain era muito orgulhosa. Sabia quem
eu era, estudávamos na mesma classe, os nossos pais se conheciam e se davam
bem, mas era difícil conseguir tirar um sorriso ou um boa tarde de Olivia. Talvez porque seu pai não gostava que a gente
jogava futebol na rua, em frente sua casa, e que às vezes tinham a desagradável
surpresa de ver nossa bola de futebol cair em seu jardim. Quando eu chegava na
rua, Olivia saía de casa e eu a acompanhava - ela de um lado e eu de outro. Ela
sabia que eu estava ali, praticamente seguindo-a, como se eu fosse seu guarda
costa. No meio do caminho encontrávamos outros amigos e conhecidos,
uniformizados, que também caminhavam em direção ao colégio e daí, me perdia de
Olivia e só íamos nos encontrar dentro da sala de aula. A Sra. Rain dizia a
minha mãe que era para eu ficar de olho em Olivia, principalmente na volta do
colégio, quando as ruas ficavam na penumbra. Eu obedecia, mas, apesar de tentar
puxar conversa, para Olivia era como se eu não existisse. Olivia sempre foi
linda! Sem uniforme, quando soltava os cabelos e vestia a calça rancheira
apertada, deslumbrava e causava furor. Por ser filha única, sempre foi mimada
pelos pais, Sr. e Sra. Rain. Melhor aluna da classe, tinha o apelido de nariz
empinado, pois escolhia a dedo os amigos e não sentava no fundão da sala de
aula. Mas, às vezes julgamos as pessoas sem conhecê-las direito e quando
realmente conhecemos temos uma surpresa e foi essa surpresa que eu procurava
encontrar em Olivia. Uma surpresa agradável! O inverno chegou e a chuva também.
Teríamos aulas de reposição. Tínhamos que ir ao colégio todos os dias e
praticamente não tivemos férias. Certo dia amanheceu chuvoso e frio, justamente
no dia do exame de matemática. Naquele dia foi difícil pular da cama - avancei
a madrugada estudando, pois precisa tirar uma boa nota no exame. Me atrasei ao
me arrumar, olhei pela janela e não vi Olivia e pensei que talvez alguém havia
levado-a ao colégio devido a chuva.
- Tchau
mãe!
- Tchau filho! Pegou o guarda
chuva?
-
Sim, peguei o guarda chuva do papai!
O guarda chuva do meu pai era bem grande e
debaixo dele nunca iria me molhar. Tinha que chegar logo no colégio, pois o Seu
Alcides, professor de matemática, não tolerava atrasos. Subi as escadas em
direção à rua e me deparei com uma chuva forte. Abri o guarda chuva e para
minha surpresa, avistei Olivia na varanda de sua casa, parada, olhando para o
céu, esperando a chuva passar para poder sair. Percebi que estava aflita, pois
não poderíamos chegar atrasados. Percebi que minha chance havia chegado. Olivia
não tinha outra opção, somente a proteção do meu guarda chuva.
- Vamos
Olivia, senão chegaremos atrasados para o exame de matemática!
Olivia saiu correndo da varanda, desceu as
escadas em direção à rua e fiquei esperando ela chegar, como uma princesa que
vem aos braços de seu príncipe encantado. Caminhamos em direção ao colégio
quando a chuva apertou novamente.
Apesar do guarda chuva gigante, a chuva
molhava meu ombro, quando Olivia me disse:
- Me
abraça senão você vai se molhar!
Me senti
nas nuvens abraçando Olivia, sentir seu corpo colado ao meu e seu perfume tinha
o cheio das rosas do jardim da Sra. Rain. Fiquei tão emocionado de abraçar
Olivia que nem sabia o que dizer. Ela sorria com a situação é aquilo foi bom,
melhor ainda quando ela me chamou pelo nome e disse:
- Não
sei o que seria de mim se não fosse você.
Ela me
agradecia muito, enquanto apertava meu corpo e eu concluía que ela não era tão
orgulhosa.
Olivia era um amor de garota! Chegamos ao
colégio faltando poucos minutos para começar o exame. Sentamos um ao lado do
outro. Tirei um lenço branco que minha mãe sempre colocava no bolso de trás da
minha calça de uniforme e dei para Olivia se secar dos respingos da chuva.
- Ela
sorriu pra mim novamente e eu até deixei de lado o nervosismo que sempre tinha
quando fazia o exame de matemática.
Parecia um sonho! Um sonho real por assim
dizer, mas eu tinha que me ater ao pesadelo do exame de matemática, que estava
muito difícil e eu precisava tirar uma boa nota.
Depois de uma hora, vi quando Olivia se
levantou. Ela havia terminado o exame. Eu continuei quebrando a cabeça para
resolver os exercícios de matemática.
Olhei para o céu pela janela da sala de aula e vi que ainda estava
chovendo e o dia escurecendo. Naquele instante não poderia ficar pensando em
Olivia e tratei de me concentrar no exame.
- Faltam
dez minutos!
O professor
Alcides parecia um cientista maluco e sua voz sarcástica dizendo que o tempo do
exame estava se esgotando serviu para todos se apressarem. O exame estava muito
difícil, mas senti que poderia alcançar a nota que precisava. Eu tinha estudado
muito e fiquei tranquilo.
Ao sair do colégio, olhei para o céu e vi
que a chuva caia ainda mais forte. - Onde
estaria Olivia?
Talvez a
Sra. Rain tenha vindo buscá-la ou teria ido de carona no guarda chuva de algum
colega.
Sai despreocupado e sozinho. Pulei algumas
poças d´água que se acumulavam na rua, quando ouvi uma voz doce me chamando: - Posso ir com você?
Era Olivia. Estava debaixo do toldo da
papelaria que ficava próxima ao colégio: - Vamos
Olivia!
Novamente lá estava eu, abraçado à minha
amada, sentindo seu corpo e seu cheiro, debaixo do guarda chuva que eu havia
pegado emprestado do meu pai e que fazia com que pudesse proteger Olivia das
águas da chuva que eu nunca imaginava que sentiria alegria por tanta enxurrada.
- Eu
não consigo pular!
Existia uma grande poça d´água à nossa
frente. Eu já estava com os pés todo molhado e meu sapato já tinha ido pro
saco. Oliva nunca conseguiria pular aquela poça.
Delicada, delicadíssima como uma pétala de
rosa, Olivia não conseguiria pular. Pensei rapidamente numa solução, pois não
poderíamos ficar ali parado, já era tarde e a chuva não cessava. Foi então que
pedi para Olivia segurar o guarda chuva. Peguei-a no colo e passei por dentro
da poça d´água, sem importar em me molhar, sem importar em perder o meu
sapato... O importante foi que o meu amor estava no meu colo, doce como a
suavidade de seu rosto colado junto ao meu e pelo brilho de seus olhos
coloridos olhando aos meus.
Transportamos a poça d´água, senti que não
existiria mais nenhuma barreira entre os nossos corações e fomos premiados por
um longo beijo que me fez sentir o gosto do mel da boca de Olivia, o grande
amor da minha vida. E quando a chuva passou, as rosas do jardim da Sra. Rain
brotaram novamente e emanadas pelos raios de sol, se confundiram com a beleza
de Olivia, a rosa mais bela do meu jardim.
TRECHO DO LIVRO
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