03 setembro 2016

ALGUMAS CRÔNICAS - VOL. II

Miguel, um adolescente que ficava fazendo malabarismo no cruzamento de duas importantes avenidas da cidade. Usava latas de leite e laranjas e ganhava uns trocados para que pudesse almoçar e jantar, matar sua fome, pois não tinha casa, vivia na rua depois que o pai morreu assassinado e a mãe ele nem sabia dizer, mas que estava perdida no mundo das drogas. Quando chegava o inverno, o menino se refugiava nos abrigos para não morrer de frio na rua. Miguel era um rapaz de fisionomia triste e além disso enfrentava o preconceito de ser um morador de rua, mas acreditou que sua vida poderia melhorar quando aquele circo se instalou perto das avenidas onde ele ficava. Miguel acompanhou toda a montagem do circo: Da armação até lançarem a lona e um painel luminoso com o nome do circo. Ficou assustado quando viu os animais, sendo alguns só ter visto na televisão. Quando tudo ficou pronto, Miguel se imaginou trabalhando no circo, fazendo seus malabarismos e entretendo o público!    - Respeitável público! Com vocês o malabarista Miguel!
    Miguel chegou a sonhar com isso, a ser anunciado para um espetáculo circense, onde pudesse mostrar o seu trabalho. Naquela tarde de feriado, Miguel não havia conseguido os trocados necessários se alimentar. Resolveu que iria pedir a alguém que pudesse ajudá-lo a matar sua fome. À sua frente um enorme painel com letreiros luminosos chamando o público para o espetáculo circense da sessão das oito. Com os poucos trocados que havia conseguido, não dava para comprar o ingresso. O público começou a chegar para o espetáculo e as arquibancadas do circo começaram a lotar. Miguel ficou próximo à bilheteria com alguns trocados na mão, imaginado como conseguiria comprar seu ticket. Inesperadamente, surgiu ao seu lado uma linda garota. Miguel ficou sem jeito. Pensou que mais uma vez seria discriminado e abaixou a cabeça:
    - Por que ages assim meu rapaz?
    Miguel não respondeu. Ficou envergonhado.
    - Queres assistir ao espetáculo?
    Miguel respondeu que sim e ameaçou um sorriso.
    - Venha como!
    A garota pegou na mão de Miguel e juntos passaram pela bilheteria e entraram sem pagar. A garota, de nome Serena, era trabalhava no circo como trapezista e naquela noite não participaria do espetáculo, pois estava se curando de uma lesão na perna. Serena ficou ao lado de Miguel durante todo o tempo do espetáculo. Comeram cachorro quente juntos, se divertiram com o espetáculo é no final, mesmo gaguejando, Miguel agradeceu timidamente, até escorrer uma lágrima dos olhos ainda vibrantes pelo espetáculo que acabara de ter assistido.
    - Qual o seu sonho? Perguntou Serena a Miguel.
    - Eu sou malabarista. Moro na rua, fico fazendo meus números no cruzamento e ganho alguns trocados para sobreviver.
Serena se sensibilizou com a sinceridade de Miguel e pediu que no dia seguinte ele viesse bem cedo ao circo, pois tentaria encaixa-lo num número de malabarista! Miguel agradeceu mais uma vez a Serena e saiu correndo, pulando de alegria pela oportunidade de trabalho que poderia surgir em sua vida. Naquela noite nem dormiu. Tentou uma vaga do abrigo, pois estava frio. Como não conseguiu, ficou vagando pelas ruas, treinando com seus malabares para que ao amanhecer pudesse voltar ao circo preparado para demonstrar suas habilidades. E quando a manhã chegou, Serena o esperava no circo. Miguel estava faminto e Serena percebeu. Antes da entrevista com o gerente, Serena serviu-lhe leite com café e pão com manteiga. Emprestou-lhe um agasalho e assim Miguel se deparou com o gerente:
    - O que você sabe fazer meu rapaz?
    - Eu faço malabarismo!
    Miguel demonstrou suas habilidades para convencer o gerente a contratá-lo. Enquanto fazia sua demonstração, via Serena em cima do trapézio, ensaiando seu número para o espetáculo da noite, quando foi surpreendido com um pedido do gerente: - Meu rapaz, vejo que você tem boas habilidades, mas queria lhe fazer uma contra proposta: Você aceitaria ensaiar um número para participar do espetáculo como palhaço?
    Miguel não pensou duas vezes. Miguel nunca tinha trabalhado como palhaço, mas não importava. O que ele precisava era de uma chance, nem que fosse para colocar a cabeça dentro da boca do leão.
    Serena viu de longe a felicidade de Miguel:
    - Quando você pode começar a ensaiar?
    Miguel respondeu que podia começar imediatamente e assim foi feito. Por ironia do destino, existia outros dois palhaços no circo, mas não faziam as pessoas rirem e Miguel percebeu que teria que ser criativo, mostrar algo novo e principalmente fazer as pessoas rirem.
    E chegou o grande dia!
    - Respeitável público!  Com vocês o palhaço carequinha!
    Miguel entrou em cena. Logo de início tropeçou e caiu fazendo o público rir, ainda mais com a ilustração de uma explosão de bomba e suas calças caindo, mostrando a ceroula de bolinhas. Fazia uma voz característica de criança, imitava animais e fazia brincadeiras com a plateia. O público morreu de rir, principalmente as crianças que tinham medo dos outros palhaços. Em cada olhar que Miguel via na plateia, lembrava-se daqueles que o questionavam na vida e foi como se Miguel estivesse dando uma resposta: Eu sou capaz! O espetáculo foi um sucesso! Miguel começou a trabalhar efetivamente no circo: Tinha um lugar para morar, um quarto para dormir, refeição quando quisesse e ainda tinha um salário. Viajou o mundo com o circo, casou-se com Serena e viveram felizes para sempre! - Às vezes, o que precisamos na vida é só uma oportunidade, mesmo que essa oportunidade seja completamente diferente daquilo que você está acostumado a fazer. Temos que ser sempre criativos! A vida é criativa! "Ainda que eu andasse só e desencorajado da minha vida em descompasso, não pagarei de Palhaço, mesmo caído no chão. Fugiu de mim toda alegria, sobraram tristezas, mágoas – Agonia. Não vou ficar na tua mira – Bala de Canhão. Estive sorrindo de desgosto, veja as marcas do meu rosto, pintadas de solidão. E quando a minha mágoa passar [vai passar],  mudarei o meu semblante e nada mais será como antes. Vida de desgosto, eu te mandarei um terno abraço, agora sim - Eu sou Palhaço! Eu voltei a sorrir.”
TRECHO DO LIVRO

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