Miguel, um adolescente que ficava fazendo malabarismo
no cruzamento de duas importantes avenidas da cidade. Usava latas de leite e
laranjas e ganhava uns trocados para que pudesse almoçar e jantar, matar sua
fome, pois não tinha casa, vivia na rua depois que o pai morreu assassinado e a
mãe ele nem sabia dizer, mas que estava perdida no mundo das drogas. Quando chegava o inverno, o menino se
refugiava nos abrigos para não morrer de frio na rua. Miguel era um rapaz de
fisionomia triste e além disso enfrentava o preconceito de ser um morador de
rua, mas acreditou que sua vida poderia melhorar quando aquele circo se
instalou perto das avenidas onde ele ficava. Miguel acompanhou toda a montagem do circo:
Da armação até lançarem a lona e um painel luminoso com o nome do circo. Ficou
assustado quando viu os animais, sendo alguns só ter visto na televisão. Quando
tudo ficou pronto, Miguel se imaginou trabalhando no circo, fazendo seus malabarismos
e entretendo o público! - Respeitável
público! Com vocês o malabarista Miguel!
Miguel chegou a sonhar com isso, a ser
anunciado para um espetáculo circense, onde pudesse mostrar o seu trabalho. Naquela
tarde de feriado, Miguel não havia conseguido os trocados necessários se
alimentar. Resolveu que iria pedir a alguém que pudesse ajudá-lo a matar sua
fome. À sua frente um enorme painel com letreiros
luminosos chamando o público para o espetáculo circense da sessão das oito. Com
os poucos trocados que havia conseguido, não dava para comprar o ingresso. O público começou a chegar para o espetáculo
e as arquibancadas do circo começaram a lotar. Miguel ficou próximo à
bilheteria com alguns trocados na mão, imaginado como conseguiria comprar seu
ticket. Inesperadamente, surgiu ao seu lado uma linda garota. Miguel ficou sem
jeito. Pensou que mais uma vez seria discriminado e abaixou a cabeça:
- Por que ages assim meu rapaz?
Miguel não respondeu. Ficou envergonhado.
- Queres assistir ao espetáculo?
Miguel respondeu que sim e ameaçou um
sorriso.
- Venha como!
A garota pegou na mão de Miguel e juntos
passaram pela bilheteria e entraram sem pagar. A garota, de nome Serena, era trabalhava no
circo como trapezista e naquela noite não participaria do espetáculo, pois
estava se curando de uma lesão na perna. Serena ficou ao lado de Miguel durante
todo o tempo do espetáculo. Comeram cachorro quente juntos, se divertiram com o
espetáculo é no final, mesmo gaguejando, Miguel agradeceu timidamente, até
escorrer uma lágrima dos olhos ainda vibrantes pelo espetáculo que acabara de
ter assistido.
- Qual
o seu sonho? Perguntou Serena a Miguel.
- Eu
sou malabarista. Moro na rua, fico fazendo meus números no cruzamento e ganho
alguns trocados para sobreviver.
Serena se sensibilizou com a sinceridade de
Miguel e pediu que no dia seguinte ele viesse bem cedo ao circo, pois tentaria
encaixa-lo num número de malabarista! Miguel agradeceu mais uma vez a Serena e
saiu correndo, pulando de alegria pela oportunidade de trabalho que poderia
surgir em sua vida. Naquela noite nem dormiu. Tentou uma vaga do abrigo, pois
estava frio. Como não conseguiu, ficou vagando pelas ruas, treinando com seus malabares
para que ao amanhecer pudesse voltar ao circo preparado para demonstrar suas
habilidades. E quando a manhã chegou, Serena o esperava
no circo. Miguel estava faminto e Serena percebeu. Antes da entrevista com o
gerente, Serena serviu-lhe leite com café e pão com manteiga. Emprestou-lhe um
agasalho e assim Miguel se deparou com o gerente:
- O
que você sabe fazer meu rapaz?
- Eu
faço malabarismo!
Miguel demonstrou suas habilidades para
convencer o gerente a contratá-lo. Enquanto fazia sua demonstração, via Serena
em cima do trapézio, ensaiando seu número para o espetáculo da noite, quando
foi surpreendido com um pedido do gerente: - Meu rapaz, vejo que você tem boas habilidades, mas queria lhe fazer uma
contra proposta: Você aceitaria ensaiar um número para participar do espetáculo
como palhaço?
Miguel não pensou duas vezes. Miguel nunca
tinha trabalhado como palhaço, mas não importava. O que ele precisava era de
uma chance, nem que fosse para colocar a cabeça dentro da boca do leão.
Serena viu de longe a felicidade de Miguel:
- Quando
você pode começar a ensaiar?
Miguel respondeu que podia começar
imediatamente e assim foi feito. Por ironia do destino, existia outros dois
palhaços no circo, mas não faziam as pessoas rirem e Miguel percebeu que teria
que ser criativo, mostrar algo novo e principalmente fazer as pessoas rirem.
E chegou o grande dia!
- Respeitável público! Com vocês o palhaço carequinha!
Miguel entrou em cena. Logo de início tropeçou
e caiu fazendo o público rir, ainda mais com a ilustração de uma explosão de
bomba e suas calças caindo, mostrando a ceroula de bolinhas. Fazia uma voz
característica de criança, imitava animais e fazia brincadeiras com a plateia. O público morreu de rir, principalmente as
crianças que tinham medo dos outros palhaços. Em cada olhar que Miguel via na plateia,
lembrava-se daqueles que o questionavam na vida e foi como se Miguel estivesse
dando uma resposta: Eu sou capaz! O espetáculo foi um sucesso! Miguel começou
a trabalhar efetivamente no circo: Tinha um lugar para morar, um quarto para
dormir, refeição quando quisesse e ainda tinha um salário. Viajou o mundo com o
circo, casou-se com Serena e viveram felizes para sempre! - Às
vezes, o que precisamos na vida é só uma oportunidade, mesmo que essa
oportunidade seja completamente diferente daquilo que você está acostumado a
fazer. Temos que ser sempre criativos! A vida é criativa! "Ainda que eu andasse só e desencorajado
da minha vida em descompasso, não pagarei de Palhaço, mesmo caído no chão.
Fugiu de mim toda alegria, sobraram tristezas, mágoas – Agonia. Não vou ficar
na tua mira – Bala de Canhão. Estive sorrindo de desgosto, veja as marcas do
meu rosto, pintadas de solidão. E quando a minha mágoa passar [vai passar],
mudarei o meu semblante e nada mais será como antes. Vida de desgosto, eu
te mandarei um terno abraço, agora sim - Eu sou Palhaço! Eu voltei a sorrir.”
TRECHO DO LIVRO
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