Quando Pedro ficou
sabendo que Sofia estava grávida do primeiro filho, estava na estrada rumo a
visitar um cliente distante, que lhe renderia uma boa comissão. - Amor! Amor! Deu positivo! Deu positivo! Sofia passava o tempo
todo conectada, seguindo os passos do marido aonde ele ia. Pedro sempre foi
fiel à Sofia, não dava motivos para ela desconfiar de qualquer coisa, mas como
ficava conectada, Pedro tinha que estar o tempo todo online. - Querido!
Não se esqueça de trazer as batatas fritas, vem logo para não chegarem frias e
tem que ser as do Mcdonalds. Se estiver fechado, tenta o drive thru! Existem casais que foram
feitos um para o outro. Esse era o caso de Pedro e Sofia. As manias de Sofia
não perturbavam Pedro, o que, diferentemente, se fosse casada com outro homem,
com certeza o casamento não daria certo, pois na concepção de vários amigos,
Sofia era verdadeiramente uma chata em pessoa! Querido!
Onde você está? Já mandei várias mensagens e não responde. Você está online? Sofia e Pedro tinham resolvido não saber
antecipadamente o sexo do bebê, mas ele ficou muito ansioso. Ela sabia que
Pedro tinha preferência por um menino, mas se viesse uma menina, ele ficaria
contente do mesmo jeito: - Compra tudo branco, amarelo ou
verde! - Não amor! Vamos saber antes! Sei que
está ansioso por isso! - Está bem! Sofia realizou o
pré-natal e tinha consultas todos os meses. A gestação transcorreu normal, só
que de vez em quando, Sofia “judiava” de Pedro, que fazia tudo que ela queria
na mais perfeita tranquilidade. - Estou com vontade de comer caju! - Eu estou dirigindo amor! Quando eu
chegar em casa a gente combina! - Quero agora! Estou com vontade
agora! - Tá bom! Vou passar no supermercado
antes de voltar para casa - Te amo! - Também te amo amor! Pedro estava numa excelente fase em sua
vida profissional. Corretor de Seguros, atendia vários clientes em todo estado,
grandes empresas, que lhe garantia uma excelente remuneração. Quando chegou o
dia da ultima consulta do pré-natal, Pedro e Sofia resolveram saber o sexo do
bebê: Se fosse um menino, seria batizado como Pedro Junior e se menina,
Stephanie. O médico posicionou lhes que estava tudo bem, que o bebê estava na
posição correta para o parto e, mostrando a eles no monitor, informou que
nasceria um meninão. Pedro deu pulos de alegria e fez o maior escândalo no
consultório médico, como se a criança tivesse nascido! - Mãe! Vai
ser um menino! Pedro Junior! - Que bom minha filha! Liga para seu pai! Os pais de Sofia eram
separados e ela não se dava bem com o pai e só falava com ele, às vezes, pelas
redes sociais, cujo Sofia era vidrada e “viciada”: - Amor! Agora você já pode comprar tudo
azul, até o berço! - Sim querida! Vamos comprar tudo
azul! Pedro não cabia em si de alegria e mais
importante para ele foi que Sofia estava bem, alegre e tranquila. Só faltava
formalizar junto ao hospital sua assistida ao parto, onde também iria filmar e
registrar o grande momento de sua vida. Pelo cálculo do médico, o bebê iria
nascer bem próximo do aniversário de Sofia, dia nove de novembro, o que seria
mais uma grande alegria! - Já pensou amor! Nascer no mesmo dia
do seu aniversário! Seria incrível! Vou ter que desconectar amor! Estou
dirigindo e não posso ser multado. À noite a gente conversa. - Não saia não amor! Vamos continuar
conversando! - Não dá não! Olha aqui! Quase bati o carro! Sofia usava todas as
redes sociais para conversar com Pedro, o dia inteiro. Pedro viajava muito de
carro para visitar os clientes e fechar seus negócios e ela o tempo todo no pé
dele. O risco de ele sofrer um acidente era iminente, pois Sofia não sossegava
e o telefone smartphone ou o laptop era como se fosse parte de seu corpo: Não
existia sem eles. A preocupação de Pedro começou quando tiveram o primeiro
alarme falso: Pedro estava na estrada, vindo de uma reunião com um cliente e
Sofia mandou-lhe um messenger dizendo
que estava sentido fortes dores. Se o Junior estivesse mesmo nascendo, Pedro
não chegaria a tempo de assistir o parto, filmar, fotografar, como tanto
queria. Assim, como seus negócios estavam prósperos, Pedro resolveu se ausentar
do trabalho até que Junior nascesse. Então Pedro começou a passar os dias
paparicando Sofia até chegar a hora do parto. Pedro Junior ainda não tinha
nascido, mas já fazia parte de um grupo numa rede social onde existiam membros
das famílias, tinha também o nome gravado na camisa do time de futebol
preferido do pai, não o da mãe, e o quarto estava todo azul, exceto o berço que
ficou na cor branca para dar um aspecto de céu ao quarto: - Querido! Onde você está? - Estou no mecânico fazendo a revisão
do carro! - Corre
pra casa querido! Acho que chegou a hora! Sofia não esperou por Pedro e seguiu de
taxi para a maternidade, junto com a mãe e uma irmã. Estava tudo bem com Sofia,
o bebê iria nascer, estava tudo sob controle. Pedro teve que ficar esperando o
carro ficar pronto, mas preocupado, pois não teria como chegar a tempo de
assistir ao parto. Saiu da oficina em disparada para a maternidade. Estava chovendo
muito naquela tarde e a pista escorregadia. Pedro dirigia além dos limites e as
mensagens de Sofia não paravam de chegar em seu smartphone, a todo o momento: - Chega
logo querido! Vem
logo! Corre! - Amor!
Onde você está? Vem logo! Ao passar por um túnel
que ligava os dois lados da cidade, Pedro não se deparou com a pista irregular
e um carro quebrado do lado direito. Não teve visibilidade o suficiente e
justamente quando estava respondendo uma mensagem de Sofia, - “Querida, eu te amo”, bateu violentamente
na traseira de um carro furgão que seguia lentamente à sua frente: Foi fatal. Imediatamente o trânsito parou e as
pessoas desciam do carro para socorrer Pedro, mas ele teve morte instantânea,
preso entre os ferros retorcidos que sobraram do veículo. Na pista, o
smartphone ainda tocava insistentemente, além das várias mensagens deixadas em
sua caixa postal, conforme apurado pelos bombeiros que o socorreram: - Nossa!
Que batida feia! Mas... Esse é o meu carro! Estou vendo pela placa! E aquele
corpo deitado no chão todo quebrado é o meu! Sou eu! Mas... Como pode ser! Sou
eu! Eu morri? Mas eu aqui, estou vendo! Que luz forte é essa? - Calma aí! Não quero subir! Eu
preciso correr para a maternidade, pois meu filho Junior está nascendo! Cadê
meu celular? E agora! Sofia vai me “matar”! O que sobrou do acidente foi o celular de
Pedro, por onde a polícia chegou a um dos parentes para dar a terrível notícia.
Sofia teve o bebê, que nasceu de parto normal e com saúde. Quando souberam da
noticia sobre a morte trágica de Pedro, os médicos acharam por bem mantê-la
sedada, até que achassem uma melhor maneira para dar-lhe a notícia. Quando
ficou sabendo, Sofia custou a acreditar, pensando ser uma brincadeira. Quando a
ficha caiu, como se diz na gíria, Sofia teve que ser sedada novamente. No
velório de Pedro, como não poderia deixar de ser, a tristeza foi comovente e
Sofia não parou de ser consolada por familiares e amigos: - Nossa!
Meu Deus! Aquele sou eu! Eu estou no caixão! Eu morri... Mas preciso entregar a
camisa do meu filho! Cadê meu filho? Ei
Deus! Não posso subir agora, tenho que entregar a camisa do meu filho! Espere
mais um pouco... O céu tem que esperar. - Ei querida! Querida? Olhe para mim, estou
aqui, não está me vendo? Querida? Ei vocês! Ninguém está me vendo? Pedro
ainda não havia se acostumado com seu "estado de morte" e não sabia o
que fazer: - Querida!
Você precisa pegar a camisa do Junior. Eu deixei no fundo da minha gaveta onde
guardo as minhas camisetas... Vai logo que não sei até que momento o céu pode me
esperar! Se morri, por que ninguém vem me buscar? Eu não sei como chegar ao
céu. Mas será que vou mesmo para o céu? Pedro
foi sepultado e Sofia não conseguia tirar a tristeza do rosto, nem da alma.
Vivia choramingando pelos cantos e não falava com ninguém. Pedro Junior nasceu
com saúde e com a cara do pai e esse foi o único motivo para Sofia continuar
vivendo: - Sem meu
amor eu quero morrer. Dizem que quando
morremos inesperadamente e deixamos algo muito importante pendente de realizar,
Deus nos concede “um tempo” antes de
seguirmos definitivamente para a vida eterna e Pedro sonhava com aquele momento
de poder vestir seu filho com a camisa do time de futebol preferido com o nome do
filho nas costas: - Pelo
estado que ficou o carro, pensei que eu estaria todo quebrado aqui, a caminho
do céu, mas não senti e não estou sentindo dor nenhuma e “alguém” já está me
chamando para subir, mas tenho que entregar a camisa, tenho que fazer Sofia
descobrir onde está a camisa. Eu consigo ouvi-la, mas ela não me ouve, ninguém
me ouve e eu preciso que ela vista a camisa no Pedro Junior para que eu possa
seguir em paz! Ainda bem que não tenho sono, fome ou coisa nenhuma, só sinto
uma vontade imensa de fazer com que Sofia atenda o meu pedido e eu possa ver
meu filho com a camisa. Acho que Deus só está esperando isso para que eu vá
embora para o céu... E tomara que seja mesmo o céu... Tem que ser o céu, pois
eu fui um bom homem na terra. Mamãe,
hoje é o dia da missa do sétimo dia da morte do Pedro. Encontro com a senhora
na igreja! Beijos! A igreja ficou lotada. Os amigos do
trabalho, os familiares e até as antigas namoradas estiveram presentes. Todos
comentavam da tristeza da perda de um grande cara que foi o Corretor de Seguros
Pedro Antonio de Figueiredo e o azar que teve por morrer justamente no mesmo
dia do nascimento do filho que tanto queria presentear com a camisa do clube e
com quem sempre imaginou brincando, educando e sendo seu parceiro para a vida
toda, que infelizmente foi abreviada por um gravíssimo acidente de carro. Após
a missa Sofia voltou imediatamente para casa, pois não queria muita conversa
para não ficar a todo o momento tristonha pelo acontecido. Preferia ficar
confinada em sua casa, cuidando de Pedro Junior e conectada nas redes sociais
quando quisesse desabafar com alguém, porém sabia que sua vida teria de mudar,
pois precisaria trabalhar, voltar a estudar, não depender apenas da pensão que
Pedro iria deixar: Precisaria mudar a sua vida e tentar ser feliz novamente,
por mais difícil que poderia parecer. - Ei
Sofia! Sofia! A camisa está na ultima gaveta da cômoda do nosso quarto, junto
com minhas outras camisetas. Pegue por favor, vista no Junior que eu já estou sendo
“pressionado” para ir embora para o céu! - Nossa Sofia! Como você está bonita! Pena que
não consigo te agarrar meu amor! - E você Junior! Nossa! É a minha cara mesmo!
Sorria para o papai! - Mamãe,
amanhã a senhora pode ir comigo no advogado? Tenho que cuidar dos papéis do
Pedro, do seguro de vida e tudo mais. Aos poucos Sofia foi se desvinculando da
tristeza, pois não poderia ficar naquele estado a vida inteira. O seu amor por
Pedro será eterno, como ela dizia, mas o mundo não havia se acabado e ela tinha
uma grande missão: Criar o filho, fruto de seu grande amor vivido com Pedro e
abreviado inesperadamente. - Vou
viver em função do meu filho e sempre terei meu eterno amor em minha memória! Sofia reagia a cada dia, mas as recaídas
eram frequentes e nos momentos de tristeza sentia que Pedro estava ao seu lado,
tentando conforta-la, pedindo para que seguisse a vida. Muitas vezes sonhava
com Pedro e os sonhos eram tão reais que ela duvidava que ele estivesse morto.
Uma vez o sonho parecia tão real que Sofia acordou abraçada ao travesseiro,
como se estivesse abraçando e beijando Pedro: - Eu senti
até o gosto do beijo! Sofia sabia que Pedro estava por perto,
pois tinha muita fé em Deus e acreditava que em espírito Pedro estava olhando
por ela e pelo filho Júnior. Não quis se desfazer de nada que pertencia
a Pedro, como roupas ou objetos, manteve-os como sempre estiveram, guardados e
arrumados, para poder recordar. Dizem que devemos nos desfazer dos pertences
dos que já morreram, mas para Sofia, o que mais queria era estar com Pedro em
pensamento, a todo o momento, mesmo que causasse tristeza, mesmo que não fosse
bom para ela se recuperar da solidão. Depois de um tempo, Sofia mudou
completamente a sua vida, largou o luto e começou a trabalhar como corretora de
seguros, mesmo trabalho que Pedro exercia. Pegou a mesma carteira de clientes e
captou novos e assim seguiu sua vida. A maior parte do tempo trabalhava em
casa, em home office, e quando precisava sair para visitar clientes, sua mãe
quem ficava cuidando do filho. Isso fez com que Sofia se distraísse, não
ficasse somente pensando na falta que Pedro lhe fazia e assim pode cuidar do
filho da melhor forma possível. Porem, com o passar do tempo, os negócios começaram
a ficar escassos. O mercado parou em função da recessão no país, troca de
governo, aumento de impostos, e a situação ficou difícil. Sofia teve que cortar
alguns gastos e tirar o filho da escola particular. Estava vivendo um momento
muito delicado e certa vez quando estava tomando um café, com a cabeça em outro
mundo, uma senhora apareceu e lhe perguntou: - Minha
filha, você está se sentindo bem? Às vezes uma palavra
basta para a pessoa desabar na melancolia, desabafar e pedir socorro mesmo pra
quem a pessoa não conheça. Sofia estava desolada e precisava desabafar e aquela
senhora apareceu em boa hora. Ficaram horas e horas conversando, trocaram
telefones e prometeram se encontrar novamente. Ao chegar em casa notou que algo estava
errado. O semblante de sua mãe era de uma mulher assustada, muito assustado.
Sofia entrou correndo no quarto e percebeu que Junior não estava bem: - Ele
está ardendo em febre. Já ministrei uma medicação, mas não está tendo efeito.
Disse sua mãe. Sofia pegou o menino no colo e ele estava
muito quente. Junior não chorava, apenas mantinha os olhos fixos nos olhos da
mãe, como que se não tivesse forças para chorar. - Mamãe,
não vamos esperar mais. Vamos leva-lo ao pronto socorro. Ao chegarem no pronto socorro, dirigiram-se
imediatamente para o setor de urgência e emergência. Junior estava no colo da
avó, que despercebida, não se deu conta que o menino estava com uma fisionomia
muito estranha. Uma médica se apresentou para examinar o garoto e ao pegá-lo no
colo, chorou. A médica chorou. O menino estava com os olhos fundos, de
fisionomia estranha, sintoma agudo de desidratação. Junior começou a chorar e
naquele momento até que foi bom, pois mostrava algum tipo de reação do menino.
Sofia estava por um fio, a ponto de estourar e se desesperar, mas manteve a
angustia, sem deixar o desespero lhe apoderar. Uma equipe de médicos e
enfermeiros começaram os procedimentos para tratar do menino. Sofia e sua mãe permaneceram muito aflitas
na sala de espera. As horas foram passando e a angustia aumentando, até
chegarem ao desespero: - Como ele está Doutor? - O estado dele inspira
cuidados. Estamos realizando todos os procedimentos, mas ele precisa reagir. O dia amanheceu e Pedro Junior ainda
estava em estado grave. Os médicos pediram para que Sofia ficasse com o garoto
no colo, tentasse fazer com que ele se movimentasse, reagisse, pois a medicação
somente não estava surtindo efeito rápido. O garoto não reagia, não chorava,
mas também não esboçava sorriso e não queria se alimentar, ficando apenas no
soro. No terceiro dia de internação Junior esboçou uma melhora, mas foi
aparente. - Chamando
Doutor Esteves! Emergência! A insistência no chamado pelo autofalante despertou Sofia, que descansava
na sala de espera: - Emergência! Quarto 411. Emergência! O quarto 411 era o que estava
Pedro Junior. O estado clinico do menino havia piorado. - Vamos transferi-lo para a UTI! Sofia, naquele momento, ficou impedida de acompanhar o filho na UTI,
abraçou a mãe e chorou muito, tanto que teve de ser sedada, pois seu desespero
era enorme. Enquanto os médicos ficaram full time cuidando de seu filho na UTI,
Sofia adormeceu com os medicamentos que recebeu. Sua mãe havia voltado para
casa e não ficou sabendo da reviravolta negativa no estado de saúde de Pedro
Junior. - É você querido! Venha logo! O Junior não
está bem! - Amor, o
que está acontecendo? Você pode me ouvir? - Nosso
filho! Não está bem! Está na UTI! - UTI? Na manhã seguinte, Sofia foi despertada
por sua mãe. O efeito dos sedativos havia passado e ela se desesperou a contar
à mãe que Junior não estava bem. Os médicos deram permissão para que somente
Sofia fosse vê-lo na UTI. - Senhora
Sofia, Seu filho permanece sem nenhuma reação. O estado de saúde dele é muito
grave. Estamos fazendo todos os procedimentos possíveis para reverter o quadro,
mas não tivemos sucesso até o momento. É preciso ter muita calma nesse momento
difícil. Vamos continuar cuidando do seu filho da forma mais adequada. Tenha
fé, reze, ore... Isso vai ajudar. Esse
foi o relato do médico. Frio e seco. Sofia resolveu esperar
mais um pouco antes de entrar na UTI. Tinha algo a fazer. Entregou algumas
peças de roupas que sua mãe havia trazido para as enfermeiras trocarem o
menino, fez suas preces, suas orações. Ela sempre teve fé, muita fé. Disse à
sua mãe que queria ficar sozinha na sala de espera, o que foi respeitado: Pedro! Onde você está? Eu pedi a Deus para
falar com você! Pedro me responda, por favor. Nosso filho não está bem! Ele
precisa muito de você! Quando finalmente Sofia se dirigiu para a
UTI, percebeu que existia no interior um enfermeiro que ficava a todo o momento
fazendo anotações numa folha de papel, como se estivesse escrevendo um
prontuário. - Ele
está reagindo! Ele está reagindo! Ele
está olhando pra mim! Ele sorriu! Sofia
chamou imediatamente os médicos, que ao verem o menino sentado na cama,
sorrindo, brincando com a mãe, fizeram cara meio que de espanto e felicidade. - Inacreditável
! - Mamãe,
estou com fome! Os médicos pediram para buscar o
prontuário do menino, quando Sofia indagou que o documento estava com o
enfermeiro: - Que enfermeiro? Aqui na UTI
somos somente em dois médicos! - Mas eu vi um enfermeiro
aqui dentro fazendo várias anotações e ministrando alguns remédios... - Bom... O pior passou. Vamos
mantê-lo em observação por mais quarenta e oito horas! Depois
de uma semana Pedro Junior já estava em casa. Forte, feliz, correndo de um lado
para outro e fazendo a maior bagunça com os brinquedos espalhados pela casa. - Mamãe, eu ainda não tinha
visto aquela camisa que você levou para trocar o Junior no hospital: - Que camisa? - Aquela de um time de
futebol e que tem o nome dele escrito nas costas. Achei muito bonita! - Bom... Eu também achei muito bonita! -
Ei querida! Sofia! O Junior está curado!
Eu recebi a sua mensagem! Ele ficou lindo com a camisa! Sua mãe achou na gaveta
conforme indiquei. Agora preciso ir, pois o céu não pode mais me esperar! Vejo
ao meu redor vários entes queridos sorrindo para mim. O caminho é estreito, mas
cabe todo mundo. Estamos sendo guiados por raios de luzes! Sinto uma paz enorme
e não sinto nenhuma dor. Deus soprou carne aos meus ossos mutilados e as minhas
feridas se secaram, desapareceram! O lugar para onde estou indo deve ser mesmo
maravilhoso! Deus me disse! Sei que de lá do céu vou poder ver você e ao nosso
filho, rezar por vocês e amenizar a saudade, pois não existirá a tristeza
alguma e um dia sei que vamos nos reencontrar! Que assim seja!
ANTONIO AUGGUSTO JOÃO