Ao apagar as luzes da sala do confessionário depois de
mais uma noite de atendendo aos fiéis, Padre Domingos se despediu das irmãs Catarina
e Noêmia e se recolheu na casa paroquial. Antes de dormir, abril um livro onde
existiam vários textos sobre as passagens bíblicas e leu:
A
cena era comum e repetia-se diariamente quando Jesus visitava Jerusalém: Ele ia
de madrugada para o monte orar e depois, bem cedinho, já estava no Templo, onde
se sentava para, com a autoridade de um Mestre, ensinar a lei ao povo que ouvia
com muita expectativa. Naquele dia, entretanto, enquanto Jesus proferia sua
aula sobre a lei, começa-se a ouvir um barulho até que Jesus silencia, enquanto
escribas e fariseus apresentam um caso muito sugestivo, uma vez que o assunto
discutido ali era a lei! Eis o caso: Uma
mulher apanhada em flagrante adultério. De um lado, Jesus precisava
lidar com a lei de Moisés que dizia que tais pecados deveriam ser punidos com a
morte – e ele já havia dito que veio para cumprir a lei (Mateus 5:17) –, de
outro lado, lidava com a possibilidade clara de ensinar ao povo todo que a misericórdia triunfa sobre o juízo.
Como ele poderia fazer as duas coisas ao mesmo tempo?
Vejamos o texto, então, para saber o que está em jogo, pois
aparentemente Jesus está contra a parede aqui.
I – Escribas e Fariseus Tentam Acusar Jesus
O objetivo dos Fariseus e Escribas era claro: “6 Isto diziam ele para terem de que o acusar”.
Eles trazem um caso teste para Jesus que teoricamente o deixaria sem saída: “Mestre, esta mulher foi apanhada em
flagrante adultério e na lei, Moisés nos mandou apedrejá-la. Tu, pois, o que
dizes?”
Não falemos sobre a falsa lisonja de chamarem Jesus de “Mestre”, para “terem de que o acusar”, mas
foquemos na situação da pobre mulher, que ainda que pecadora e adúltera
estivesse agora exposta de forma vergonhosa a “todo o povo” que estava ali. Todos assentados, inclusive
Jesus, na sua posição de Mestre, exceto a mulher, que foi ali colocada “de pé”.
Imagine-se tendo seus pecados mais obscuros sendo expostos aos olhos de
todas as pessoas daquela maneira que entenderá um pouco do que se passava na
mente daquela mulher!
II – Eles Saem Acusados da Situação
Qual seria a resposta de Jesus? Se dissesse para não apedrejá-la,
poderia ser acusado de quebrar a lei de Moisés; se mandasse apedrejar, deixaria
de ensinar o valor da graça e do perdão, e, certamente, diminuiria a admiração,
pois se igualaria aos fariseus na interpretação da lei.
Até porque em Levítico 20:10 e Deuteronômio 22:22-24 a lei mandava que
ambos, homem e mulher fossem apedrejados, mas Jesus nem se utiliza dessa carta
na manga.
Curiosamente ele fica calado e “se inclina para escrever com o dedo no chão”. Não nos
interessa o conteúdo do que Jesus escreve, pois se nos interessasse isso seria
informado pelo autor, mas isso causa uma animação nos acusadores que agora “insistem na pergunta”, como se
tivessem vencido e encurralado o Senhor Jesus.
Enquanto toda essa trama acontece, a mulher ainda está estática,
coitada, com todos os olhares nela. Até por isso, “Jesus se levanta” para dizer algumas palavras, depois “se assenta novamente e volta a escrever com
o dedo no chão”; mas o que ele teria dito e feito que mudasse tão
drasticamente a cena?
Primeiro, os acusadores queriam ter do que acusar Jesus, mas agora, “ouvindo eles a resposta e acusados pela
própria consciência, saem um a um… ficando só Jesus e a mulher no meio onde
estava”.
Três coisas importantes aqui; primeiro Jesus se levanta da sua posição
de autoridade para proferir as palavras, fazendo com que os olhares saíssem da
mulher e se virassem para ele. Depois ele se assentou, mostrando que sua
autoridade independe de posição ou posto – mas vemos a compaixão de Jesus
quando ele chama a atenção de todos para si (veremos mais sobre isso no último
ponto).
Segundo, eis as palavras que ele profere: “Aquele que dentre vós estiver sem pecado, seja o primeiro que lhe atire
a pedra”. Porque apenas essas palavras causariam tanta comoção? Bem,
no original percebemos que Jesus estava lidando com aquele adultério,
especificamente (lit. este pecado),
o que indica que tudo foi organizado pelos escribas e fariseus exclusivamente
para pegar Jesus. A mulher foi
apenas uma prostituta paga e usada naquele caso; mas também era lei em Israel
que aqueles que denunciavam um crime, jogassem a primeira pedra se fossem
inocentes, pois isso seria um privilégio. Mas como não eram inocentes, saíram
dali cabisbaixos.
Em terceiro lugar, Jesus cumpre a lei em não apedrejar a mulher, pois
segundo o próprio livro de João, os mesmos escribas e fariseus, quando pedem a
Pilatos que crucifique Jesus; e Pilatos os manda julgar pela própria lei dos
Judeus, eles respondem, por estarem sob o jugo de Roma: “A nós não nos é lícito matar
ninguém” (João 18:31).
III – A Mulher Ainda Tinha a Acusação Contra Ela
Resolvido o problema entre Jesus e os fariseus que foram mais uma vez
humilhados pela verdade e sabedoria de Jesus, a mulher ainda estava ali,
seminua, envergonhada, exposta a toda sociedade de Jerusalém.
Muitos podem se identificar com os acusadores até esse ponto. São ávidos
em apontar os erros dos outros, mas esquecem que muitas vezes cometem
exatamente aquilo que condenam. Que essa hipocrisia seja extirpada do nosso
meio.
Mas alguns dos leitores podem se identificar aqui com essa mulher. Se
esse for o seu caso, se você percebe que é pecador(a), saiba que todos os olhos
desse mundo não podem ser mais perigosos que os olhos daquele que estava diante
daquela mulher.
Ele era o único que poderia atirar todas as pedras e ser absolutamente
justo, mas o texto diz que em vez disso, mais uma vez “erguendo-se Jesus”, começa a
dialogar com a aquela mulher.
Seus olhos, em lugar de ódio e julgamento, naquele momento foram de
compaixão e perdão: “Eu tampouco te
condeno”. Mas note que essas palavras de Jesus teriam drásticas
conseqüências. Pois ele ainda tinha a lei que condenava aquela mulher para o
inferno, assim como condena-nos por causa dos nossos pecados.
Quando Jesus mais uma vez se levanta, “não há mais ninguém ali além da mulher”, então ele se
levanta para mostrar a ela que suas palavras de perdão o levaria ao lugar dela.
Ele não seria meramente apedrejado pelo adultério dela, mas a ira de Deus
recairia completamente sobre ele, para que ele pudesse dizer aquelas simples
palavras de perdão.
Você pode também, ao ler essa história, entender que Jesus graciosamente
está se oferecendo para perdoar seus pecados, mas saiba que ele pagou de forma
dramática na cruz, por isso é que “a
cruz de Cristo nos constrange”.
Finalmente, não pense que o perdão de Jesus deixa você continuar na sua vida de
pecado. Assim como aquela mulher teve a sua vergonha e a sua culpa cobertas por
Jesus, pois ele levou sobre si;
ela saiu dali com a sua vida transformada.
Jesus disse a ela: “agora
vai e não peques mais”. Faça você o mesmo. Você que agora tem a sua
consciência pesada por causa do seu pecado, lance tudo sobre Cristo, pois ele tem cuidado de nós. E aprenda
a delícia que é andar em novidade de
vida! Note que as únicas palavras dessa mulher foram: “Ninguém Senhor”, o mesmo é
suficiente para você aprender que se Cristo libertar e salvar você, o seu
passado é completamente esquecido por ele; afinal, ainda que sejamos sujos de
pecado, nenhuma condenação há para os
que estão em Cristo
Jesus.
TRECHO DO LIVRO