Segundo Freud, o ser humano não é
movido apenas por sua parte consciente. Grande parte das ações humanas é
influenciada poderosamente por uma porção da psique humana que não é plenamente
percebida pela nossa consciência. É o chamado "inconsciente", também
chamado por Freud de id, palavra em latim que significa
"isso". O uso do termo "id" significa que é uma porção
obscura, misteriosa da nossa psique. É composta pelos nossos instintos,
desejos, medos e lembranças que foram rechaçados pela porção consciente da
nossa psique em virtude de regras morais. É interessante observar que Freud não
foi o primeiro a sugerir que somos influenciados por aspectos de nossa psique
dos quais não temos plena consciência: o filósofo alemão Gottfried Leibniz já
levantara essa questão no século XVII. A porção consciente de nossa psique,
aquela da qual temos consciência permanente, é chamada por Freud de ego,
palavra em latim que significa "eu". O nosso eu rejeita muitos de
nossos pensamentos por eles irem contra as normas da ética, normas estas que,
durante toda nossa vida, são absorvidas por nossa psique. Estas normas éticas
que foram absorvidas por nossa psique são chamadas por Freud de superego,
palavra em latim que significa "sobre o eu". Segundo Freud, a função
destas normas éticas seria conciliar as vontades dos id das pessoas, tornando
possível a existência das sociedades. Ou seja, o superego colocaria um limite
nas exigências do id: o limite do aceitável pela sociedade.
Dentro dessa estrutura tripartite da
psique humana proposta por Freud (id, ego e superego), a função do ego seria
conciliar as exigências normalmente antagônicas do id e do superego, achando um
denominador comum entre ambos. Os pensamentos provenientes do id que não fossem
aceitos pelo ego retornariam ao id, compondo os chamados "traumas",
que se manifestariam no indivíduo através das "neuroses", ou seja, as
doenças psíquicas. A terapêutica freudiana consiste em trazer à consciência do
paciente, através de sua exposição oral, esses traumas, ou seja, essas
lembranças reprimidas. A espontânea exposição desses fatos reprimidos, na
sessão de psicanálise, teria o efeito de curar as doenças psíquicas. Esses
desejos não satisfeitos no plano consciente e armazenados no inconsciente se
manifestariam através dos sonhos. Durante os sonhos, esses desejos poderiam,
enfim, ser satisfeitos. Em relação aos sonhos desagradáveis, os chamados
"pesadelos", Freud os explicava como sendo frutos de inclinações
sadomasoquistas (obtenção de prazer através do sofrimento de outras pessoas ou
através do próprio sofrimento). Uma das críticas que se fazem a
Freud é a pouca representatividade dos casos clínicos em que se baseou sua
teoria: todos os pacientes de Freud pertenciam a um mesmo estrato social, a
classe média vienense do final do século XIX e início do século XX. Visando a
superar essa limitação de amostras e, dessa forma, dotar sua teoria de um maior
alcance de aplicação, Freud estudou clássicos da literatura e da arte mundiais,
buscando, desta forma, aplicar sua teoria em outros contextos culturais.
Foi baseado no clássico de Sófocles
(famoso escritor grego do século V a.C.) "Rei Édipo" que Freud
idealizou o famoso "complexo de édipo", segundo o qual toda pessoa
buscaria o prazer (representado simbolicamente pela figura materna), no que
seria contido pelas leis da sociedade (representadas simbolicamente pela figura
paterna). Na história do "Rei Édipo", Édipo mata o seu pai e se casa
com sua mãe, embora só venha a descobrir a identidade deles após ter realizado
tais atos. Quanto tem consciência dos seus atos hediondos, Édipo fura seus
próprios olhos, como forma de autopunição. Segundo o complexo de édipo
formulado por Freud, todo ser humano quer "se casar com a mãe"
(sentir prazer), tal como fez Édipo, mas, para realizar isso, precisa antes
"matar o seu rival, o pai" (se confrontar com as regras sociais).
Como na história de Édipo, o "assassínio do pai" (violação das
regras sociais) e o "casamento com a mãe" (obtenção do prazer) não
podem ser permitidos pela sociedade, pois gerariam instabilidade. Essa não
permissão da sociedade é representada, no clássico de Sófocles, pela
autopunição de Édipo e seu exílio. Mais tarde, Freud levantou a possibilidade
de este complexo estar representado também em outro clássico da literatura:
"Macbeth", de William Shakespeare. Na obra desse autor inglês, o
personagem-título mata o pai para se apoderar de seu trono (que representaria,
simbolicamente, a figura materna, o prazer). Para Freud, a vida civilizada era
uma luta constante entre o "princípio do prazer", representado pela
busca do prazer ao qual todo ser almeja e o "princípio da realidade",
que significa os limites que a sociedade, através de suas normas morais, impõe
à realização do princípio do prazer. Este conflito permanente geraria um
mal-estar na civilização, um "mal-estar na cultura", título da obra
escrita por Freud em 1930. Ainda em relação à arte, Freud achava que
o fenômeno artístico era muito semelhante à neurose: em ambos os casos, ocorria
uma fuga da realidade, visando à superação da limitação imposta pela realidade
aos desejos dos indivíduos. Só que a arte gerava um retorno prazeroso para o
artista, através da reação agradecida do público diante da qualidade da obra
artística, o que não acontecia no caso da neurose.
Trecho do Livro
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