19 dezembro 2020

SUBINDO A RAMPA

Estava pronto para sair para o trabalho quando o telefone tocou: - Era minha mãe. Ela estava aflita. Tomei um gole de café, fui até o quarto das crianças, sai às pressas dando tchau:  - Seu pai não está bem. Disse minha mãe ao telefone. Meu pai precisava ir com urgência para o hospital. Assim que acordou, minha mãe o convenceu: - Ele passou a noite inteira gemendo, se movendo na cama de um lado para outroCheguei rápido. Meu pai estava sorridente, procedimento que sempre usou para não deixar minha mãe preocupada: – Ele escondia a dorPediu para fazer a barba antes de sair, passou a colônia de alfazema e colocou a camisa para dentro da calça. Ele agia como se não estivesse acontecendo nada. Apesar da gravidade aparente, ele estava bem otimista, assim como todos nós. No caminho, não falamos em doenças, médicos e hospitais, mas sim de recordações de alguns momentos de nossas vidas: – Momentos felizes! Não poderia, nunca mesmo, deixar de escrever esse acontecimento, depois de tantos sonhos que tive com meu pai, apesar de saber bem o final. É mais uma página do Livro da Minha Vida, das nossas vidas, gravado para sempre na memória de toda a família. Chegamos ao hospital rapidamente e existia uma fila aonde várias pessoas iriam se internar. Pela ordem de chegada, meu pai ficou perto da rampa que dava acesso a sala de internação. Minha mãe não pode ficar ao lado dele e fiquei na recepção cuidando dos papéis para a internação. Do último diálogo que me lembro, minha mãe pediu para que ele ajeitasse a camisa dentro da calça. De repente, ouve-se uma voz grave, pedindo para que as pessoas daquela fila começassem a andar em direção a sala de internação. Lembro que meu pai disse: - Fiquem com Deus! Minha mãe respondeu:- Amém! Meu pai ficou parado no início da rampa, a todo o momento olhando para trás, procurando por mim e pela minha mãe, acenando com a mão direita e segurando um lenço branco na mão esquerda. Quando chegou sua vez de caminhar em direção a sala de internação, lembro perfeitamente do meu pai Subindo a Rampa – Acenando! Como querendo dizer até breve, adeus... Como uma criança que se perdeu do braço da mãe, mas que caminhou - Subindo a Rampa - De encontro aos braços de DEUS.
ANTONIO AUGGUSTO JOÃO

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